Haaland e o fim dos tempos
A contratação de Haaland pelo Manchester City não é o fim dos tempos nem acaba com a competitividade. Será, antes, um desafio impressionante. Para o jogador, para o City e para Guardiola.
A contratação de Erling Haaland pelo Manchester City e a sua implantação na equipa de Pep Guardiola é um desafio que vou seguir com muito interesse e até alguma admiração, porque pode marcar uma tendência. Pode parecer contraditório, porque toda a gente se centra na máquina de gastar que é o City, decretando de imediato o fim de toda a competitividade enquanto o dinheiro do petróleo continuar a ditar leis na Premier League, mas o que vejo ali é uma contínua busca de aperfeiçoamento e a procura de novos caminhos, indicando uma predisposição para pôr tudo em causa que a mim me agrada. O City gasta muito? É verdade. Nos últimos três anos pagou 465 milhões de euros em transferências, mais oito milhões do que o Manchester United, por exemplo. E é ver onde estão as duas equipas para se perceber o que é gastar de acordo com um plano e com inteligência e o que é disparar em todos os sentidos sem critério.
Há dois anos e meio, no início de 2020, o clã Haaland – o filho, Erling, e o pai, Alfie, um antigo internacional – esteve numa sala com os dirigentes do Manchester United e o empresário do jogador, o recentemente falecido Mino Raiola, para assinar contrato com os Red Devils. O norueguês alinhava ainda no Red Bull Salzburgo e agradava-lhe muito a ideia de poder voltar a trabalhar com Ole Gunnar Solskjaer, que à data era patrão de Old Trafford e que tinha sido treinador do avançado no Molde FK. O negócio não se fez, no entanto, alegadamente porque o United não quis meter uma cláusula de rescisão no contrato, e Haaland acabou no Borussia Dortmund. É agora graças a essa cláusula de rescisão – que se dizia ser de 75 milhões de euros mas que ao que parece até é mais baixa, em torno dos 60 milhões – que o norueguês vai mudar-se para o Manchester City, que o contratará por pouco mais de metade do que lhe custou Grealish há um ano e por pouco mais de um terço do que exigia o Tottenham para vender Kane, no último Verão.
Por isso, que se decretasse o fim de toda a competitividade quando o City pagou mais de 100 milhões por Grealish ou quando ponderou torrar 150 milhões em Kane, eu até entenderia. Que se adivinhe o fim dos tempos quando o Bayern Munique se abastece reiteradamente nos principais rivais da Bundesliga – Lewandowski, Hummels, Sabitzer, Upamecano, Nagelsmann, ao que tudo indica Laimer já no próximo verão... – até se compreendia. Agora que isso se faça à conta de uma contratação de 60 milhões de euros – mais 15 milhões do que o Liverpool FC pagou em Janeiro por Luís Díaz, por exemplo, e que muitos acharam uma pechincha – já me parece um esforço de contorcionismo no qual não entro. O City tem fundos ilimitados? Pois parece que sim. Como os teve o Paris Saint-Germain, única forma de poder acumular num só plantel Messi, Neymar e Mbappé, já para não falar de Di Maria ou Icardi, isto apenas entre os atacantes. A regulação destes exageros é um problema urgente, que as autoridades precisam de atacar, o que pode ser complicado face a toda a legislação que será preciso contornar num Mundo de concorrência livre, no qual o limite ao investimento por parte das empresas é visto como uma coisa mais má do que boa. Mas na chegada de Haaland ao City o que eu mais vejo é a busca da resolução de um problema futebolístico.
Devo dizer que não sou, de todo, um “guardiolista”. Como entretenimento, entre o futebol mais trabalhado, muito circular e inegavelmente exigente e meritório que praticam as equipas do catalão e o jogo mais variado e direto que jogava, por exemplo, o Real Madrid de Mourinho, sempre preferi o segundo. Mas admiro quem é capaz de se pôr em causa e de derrubar alicerces e ideias feitas, que é o que Guardiola vai fazer com a entrada de Haaland. Como seria, de certa forma, aquilo que teria feito se tivesse contratado Ronaldo no início da época passada e se o português – o maior salário da Premier League – não tivesse acabado no United, mesmo sem o dinheiro do Abu Dhabi. Guardiola já tentou um golpe do género – e fracassou – com a introdução de Zlatan Ibrahimovic no FC Barcelona, na sequência da vitória na Liga dos Campeões, em 2009. No entanto, seja porque o ego do sueco chocou de frente com o de Messi ou porque ele era um elemento demasiado subversivo, essa primeira tentativa de Pep com um “nove grande” redundou na saída do jogador, por empréstimo, ao fim de um ano. Lewandowski foi, até hoje, o único ponta-de-lança mais clássico que serviu ao futebol de Guardiola, que no último verão preferiu centrar todos os esforços na busca de um goleador num “nove e meio” como é Kane, jogador que baixa muito em apoio e que frequentemente pode até ser visto como um género de médio ofensivo.
Ora se com Kane pouco mudaria no futebol que vimos o City praticar – haveria bastante mais qualidade e finalização... – com Haaland será muito diferente. Tal como Ronaldo, Haaland é um jogador muito forte, sobretudo, em transição ofensiva. É uma máquina finalizadora, ao mesmo tempo que é uma máquina de contra-ataque, de busca da profundidade, de rápidas investidas, de futebol mais direto. Ao contrário de Ronaldo, aos 21 anos, tem toda a carreira pela frente e será, ainda, extremamente moldável. O que me interessa na contratação deste avançado norueguês não é tanto se o City gasta muito ou pouco, porque até se iniciar a época muitos mais milhões passarão pelo crivo das transferências. Será, isso sim, apreciar os efeitos de Haaland no futebol do City e de Guardiola no futebol de Haaland. Esse, sim, é um dilema futebolístico capaz de apimentar a nova época.
Haaland é um belíssimo jogador, disso não tenho dúvidas. O Manchester City gasta milhões e milhões em jogadores, assim como outros clubes. Disto penso que ninguém tem dúvidas. Mas onde eu tenho dúvidas é no seguinte, até onde é que isto continua a ser futebol. Toda a gente sabe de onde vem este dinheiro todo e ninguém consegue controlar estas fortunas obscuras. Muita gente deve estar a ganhar com isto.
Mas para mim, como eu sou um otimista e tento sempre ver o lado engraçado da coisa, fico feliz quando estas equipas milionárias perdem. Não sei porquê, mas rio-me e dá-me gozo, ver uma equipa "perfeita" levar uma banhada nos ultimos 3 minutos de jogo e perder. Fez-me lembrar a final da champions em 99 (relacionado com o vitória do Real Madrid na champions league deste ano).
O futebol inglês está a ficar descontrolado, lembra-me as histórias dos oligarcas mas isto é assunto para outros espaços que não este. Agora, que o Haaland não pense que jogar em Inglaterra é o mesmo que no Dortmund. Vai ser muito mais difícil e a meu ver cometeu um erro... porque deveria ter escolhido jogar pelo Real Madrid assim como o João Félix cometeu o erro de ir jogar para uma equipa "blocos de cimento". A meu ver existem clubes de futebol e depois existe o Real Madrid que coloca todos os outros clubes em sentido, mesmo perdendo com Sheriff, tal como o Barcelona. O Guardiola, também sempre foi um treinador de facilitismos, porque sempre pegou em super equipas, nunca podendo-se comparar ao José Mourinho que torna equipas perdedoras em equipas vencedoras. Veremos como se desenvolve o Haaland e se também consegue colocar a seleção do país dele em competições importantes. Talvez todas estas minhas comparações finais, sejam já alguma nostalgia dos já históricos duelos entre Guardiola do Barça e o Mourinho do Real, aí sim... viemos muito futebol. E posso arriscar que nos próximos anos será muito dificil algum jogador vir a causar um grande impacto no mundo do futebol. Porque depois de vermos CR7 e Messi, tanta coisa, tanto jogador, tanto clube se tornou banal.
Há tanta gente preocupada com os milhões gastos pelo City. Ok, e os milhões que recebe de retorno, por exemplo, só de participar e chegar tão longe quanto possível na Champions?. Bem sei que, nós por cá, ficamos sempre boquiabertos com os milhões conseguidos por um dos três grandes. Migalhas em relação ao City. A minha reflexão vai no sentido da pergunta habitual do Tadeia a uma contratação: ok, entrou Haaland. E quem sai?