F80 (7): Rolão
Para Rolão, os estudos estiveram sempre à frente do futebol. Estudava e dava uns chutos ao fim-de-semana. Mas ainda passou seis anos na I Divisão, antes de voltar a cultivar a vertente cerebral.
Era esguio e rápido, um extremo retilíneo, daqueles que tanto procurava a linha de fundo para cruzar como, havendo espaço, tentava a diagonal para ir ele mesmo à procura do golo. Mas nem assim, nem depois de ter passado pelas camadas jovens do Sporting, Rolão se deixou iludir. Não seria como jogador de futebol que asseguraria a subsistência. O seu investimento maior foi sempre na formação, na vertente universitária que lhe permitiria mais tarde ser treinador. O jogo, como praticante, quase era para ele uma forma de experimentar. E só um treinador que, como ele, compreendia a vertente mais científica, como foi Jesualdo Ferreira, podia convencê-lo a tentar o profissionalismo de chuteiras calçadas.
Estávamos em 1982, Rolão frequentava o quarto ano da licenciatura em educação física no ISEF, quando Jesualdo Ferreira, um dos mentores do curso, lhe sugeriu que lhe fizesse companhia na aventura que ia encetar no Torreense, clube que então militava na Zona Centro da II Divisão. Rolão tinha sido um futebolista promissor, com passagem pelos iniciados do Sporting, mas escolhera sacrificar a carreira de futebolista aos estudos e passara os últimos anos em equipas amadoras. Ia à faculdade durante a semana e dava uns chutos ao domingo. Em Torres Vedras, porém, a exigência ia aumentar. E ele estava quase a fazer 23 anos. Tarde para se começar uma carreira de excelência.
O rendimento de Rolão em Torres Vedras, em duas épocas nas quais o Torreense andou perto de discutir a subida de divisão (um sexto e um quarto lugares), levou Jesualdo a querer tê-lo com ele quando subiu de patamar e assinou pela Académica. Rolão foi um dos quatro jogadores que Jesualdo levou para Coimbra, mas o único que se fixou como titular. A 26 de Agosto de 1984 estreou-se logo com um golo na I Divisão, marcando em jogada individual o segundo de uma vitória por 3-0 que a Académica conseguiu frente ao FC Penafiel na Mata Real. Faria mais dois nesse campeonato (um bis em casa ao Farense), no qual só não foi titular uma vez (derrota em Guimarães) e se converteu numa das figuras no sétimo lugar da Académica. Já com Vítor Manuel à frente da equipa, que Jesualdo Ferreira acabou por ser demitido em finais de Outubro, após seis derrotas consecutivas.
Rolão não era, porém, jogador de um treinador só. Vítor Manuel foi mantendo a confiança nele e ele manteve o rendimento. Em 1985/86 voltou a ser um pêndulo – falhou apenas um jogo, que foi a derrota caseira com o Benfica – e aumentou a produção goleadora para quatro golos, um deles ao FC Porto. Marcou também, um autogolo, que custou a derrota na Luz frente aos encarnados (1-0), mas nem isso impediu a Académica de assegurar a permanência, na penúltima jornada, com um empate em Penafiel (1-1). No final da época, Bandeirinha, que estava em Coimbra emprestado pelo FC Porto e formava a asa direita com Rolão, foi convocado para a fase final do Mundial, acabando por deixar o clube no verão. De regresso de férias, o extremo acabou convertido em defesa lateral. Foi ali, mais longe do ataque, que atuou durante a maior parte da época, marcando mesmo assim um golo no campeonato: ao Rio Ave, a 14 de Dezembro de 1986, numa vitória por 2-0.
A Académica acabou por descer de divisão em 1988. Rolão ainda passou mais um ano em Coimbra, mas já sem a mesma continuidade na equipa que falhou por pouco o regresso à I Divisão, acabando a Zona Centro do segundo escalão a dois pontos do Feirense. Mesmo assim, no final da época acedeu a um convite do Funchal e assinou pelo Nacional, que militava no primeiro escalão. Em dois anos ali passados, porém, já não jogou muito. Despediu-se do campeonato principal a 16 de Março de 1991, com uma derrota por 3-0 frente ao Sporting em Alvalade, onde tudo tinha começado. O Nacional desceu, Rolão ainda começou a temporada seguinte, já na II Divisão, mas rapidamente sucedeu a Eurico Gomes como treinador principal. Apesar dos mais de 100 jogos que fez na I Divisão, a sua verdadeira ia começar ali. E não por ele ter atingido um grande destaque competitivo como treinador, mas por ter entendido que esta era a sua verdadeira vocação.
Feito treinador aos 32 anos, chegou a ser diretor-desportivo do Marítimo, adjunto de Carlos Queiroz na seleção dos Emiratos Árabes Unidos e depois de Laszlo Bölöni no Sporting – esteve no título de campeão da equipa leonina, em 2001/02 –, no Rennes, no Mónaco, no Standard Liège ou no PAOK. Dirigiu a Academia Luís Figo na China e fez parte da equipa técnica do Portimonense até final da época de 2020/21. Trabalha hoje como consultor numa agência de representação de jogadores e treinadores.
Este artigo faz parte da série F80, destinada a celebrar o centenário das competições de futebol em Portugal, em 2022. Por aqui passarão biografias de jogadores, sempre em dia de aniversário, e a história de todas as épocas desde esse primeiro Campeonato de Portugal. Os primeiros nove artigos estarão disponíveis no plano gratuito. A partir de 7 de Novembro, para a eles aceder terá de se tornar assinante-pagante.
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