Eminências pardas (8): Damien Comolli
Apareceu como delfim de Wenger, chegou ao topo como diretor no Tottenham e no Liverpool FC, mas a presunção levou-o à queda e à reconversão. Damien Comolli ressurge como presidente do Toulouse FC.
O mito de Ícaro foi revivido no futebol de alto nível por Damien Comolli, o francês que cresceu debaixo da asa protetora de Arsène Wenger e acumulou sucessos atrás de sucessos como olheiro e depois diretor desportivo, graças a uma abordagem à data inovadora e baseada nas estatísticas. Só que, tal como o filho de Dédalo, aproximou-se demasiado do sol e não ligou ao que lhe iam dizendo, acabando por estatelar-se no chão. Dez anos depois de ter saído do Liverpool FC, Comolli voltará este mês ao futebol de mais alto nível. Trabalhou com os norte-americanos do Red Bird Capital Partners na compra do Toulouse FC, tornou-se presidente do clube e já teve sucesso na primeira tarefa, que foi a conquista do título da Ligue 2 e a subida ao escalão principal. Há um Comolli diferente do que era acusado de achar que tinha sempre razão? Sem dúvida. Aliás, uma das inovações na sua gestão nesta aventura foi a contratação da turca Selinay Gurgenc para ser a sua consciência, isto é, alguém que contesta todas as suas decisões.
“No futebol é preciso ter humildade. E Damien acha que tem sempre razão”, queixava-se Bernard Caiazzo, um dos donos do AS Saint-Etiènne por alturas da segunda passagem de Comolli pelo clube verde, em 2008. “Nunca tive uma boa relação com ele [Comolli]. Nunca houve diálogo entre nós acerca de contratações, por exemplo. Ele queria contratar jogadores jovens só para poder fazer dinheiro com eles no futuro. As decisões não eram tomadas por razões futebolísticas”, referira Martin Jol, o treinador neerlandês que o francês demitira do Tottenham, antes disso. Esse era o período em que Comolli se transformara num mito, em alguém que diziam ser “futebolaólico”. “Férias? Não tenho tempo para essas coisas”, afirmou ele uma vez, como que a ajudar a fixar a imagem do diretor desportivo hiper-dedicado e infalível, um dos precursores do uso das estatísticas na tomada de decisões. E essa deve ser uma das poucas coisas de que, tantos anos depois, Comolli ainda não abdicou. Próximo de Billy Beane, o norte-americano que foi diretor-geral dos Oakland Athletics e que esteve na origem do livro e do filme “Moneyball”, o francês tem ao seu serviço em Toulouse uma vasta equipa de analistas de dados, que modelizou tudo e mais alguma coisa com base em casos de sucesso.