Eminências pardas (6): Monchi
O mais mediático diretor desportivo do futebol mundial ajudou a transformar o Sevilha FC de um clube de II Divisão num papa-taças europeias. Mas Monchi pode ter perdido o toque de Midas.
Costuma dizer-se que o trabalho de diretor desportivo casa muito mal com a visibilidade. Que os melhores e mais eficazes são os que se mexem pela calada, que primam pela discrição e surpreendem depois pelos resultados alcançados. Pois bem: nada disso interessa a Monchi, o mais badalado diretor desportivo do futebol mundial, o espanhol que já foi protagonista de livros e de documentários, tem Masterclasses disponíveis no YouTube e é tido como o maior responsável pela transformação do Sevilha FC de equipa de II Divisão numa das potências do atual futebol do país vizinho, muito à conta dos mais de 200 milhões de euros de mais-valias que obteve em transferências. Porque Monchi acredita, acima de tudo, no método. Diz que aprendeu isso com Carlos Bilardo, o treinador argentino que ele conheceu em Sevilha. E o método Monchi não tem nada a ver com visibilidade ou falta dela, mas sim com proximidade, acumulação de informação e não deixar nada ao acaso.
Ramón Rodriguez Verdejo, assim se chama o homem, foi guarda-redes. E não foi nada de especial. Jogava no CD San Fernando quando, em 1986, foi detetado e contratado para as categorias inferiores do Sevilha FC. Em 1990, aos 22 anos, Vicente Cantatore, esse mesmo, o chileno que depois viria a treinar o Sporting por um brevíssimo período, promoveu-o à equipa principal, para ser a sombra de Unzué e do soviético Dassaev. Monchi estreou-se nas balizas do Sevilha FC em Janeiro de 1991, num empate a uma bola com a Real Sociedad, no Atocha. A verdade é que nunca foi primeira opção por tempo suficiente para se estabelecer e do que mais se lembra dos tempos de jogador é das más tardes. Como a de 10 de Setembro de 1997, quando Vicente Miera apostou nele como titular na primeira eliminatória da Taça do Rei, com o modesto Isla Cristina – que acabara de subir à II Divisão B – e ele se deixou surpreender por um chapéu de uns 40 metros, causando a eliminação da sua equipa, com uma derrota caseira por 2-3. Nesse dia, Monchi teve de sair do Ramón Sánchez Pizjuan escondido na carrinha dos equipamentos. Depois, a conduzir, quando parava nos semáforos, baixava sempre a cabeça, para não ser reconhecido e abordado. “E se saía para comer, mandava a minha mulher, que estava grávida, à frente, a ver se tinham vergonha de nos incomodar”, contou depois.
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