Eminências pardas (5): Marcel Brands
Este holandês que guardava sempre metade das moedas que lhe davam desenvolveu um método que tem mais a ver com aposta em jovens do que com gastos avultados. No Everton deu-se mal e vai voltar ao PSV.
As duas décadas de carreira de Marcel Brands como diretor desportivo, quase todas vividas na Holanda, contam uma história de coerência. Tanto em Waalwijk, como em Alkmaar ou em Eindhoven, este antigo médio de capacidades modestas apostou forte na formação para ser capaz de superar orçamentos limitados e obter resultados. O sucesso que teve nos três clubes permitiu-lhe chegar, no Verão de 2018, ao Everton. Nas margens do rio Mersey, no entanto, fartaram-se de esperar pelo seu toque de Midas e, semanas antes do Natal, o holandês demitiu-se, tendo sido públicas as divergências que mantinha com o espanhol Rafael Benítez, à data o treinador. Cinco meses depois, Brands já está de volta ao PSV, Benítez – a quem o clube apoiou no diferendo – também já foi substituído por Frank Lampard e o Everton corre sérios riscos de descer de divisão.
A derrota no derby com o Liverpool FC, no início de Dezembro, acelerou a resolução de uma situação que já estava muito deteriorada. Na sequência do jogo, Brands foi verbalmente confrontado por adeptos dos “toffees” e tirou do facto as devidas ilações. Dois dias depois, “na sequência de uma conversa com o presidente e a administração”, o holandês demitiu-se. “A decisão levou algum tempo e foi das mais difíceis que tive de tomar na minha carreira, mas todos concordámos que há diferenças claras entre mim e a administração na visão que temos para este belo clube e no caminho que ele deve assumir”, explicou na altura Brands. Da parte do Everton, o comunicado era também cristalino: “o proprietário e a administração dão ao treinador, Rafa Benítez, todo o seu apoio”. E a questão do treinador foi sempre fundamental na conturbada relação de Brands com o Everton, pois o proprietário, Farhad Moshiri, nunca contratou o técnico que o holandês queria – e que no último Verão era Graham Potter, do Brighton & Hove Albion. Em vez disso, a aposta do Everton foi em Benítez. A escolha era muito impopular, devido à ligação histórica do espanhol ao Liverpool FC, o rival citadino, mas o que Brands menos gostou nela foi o facto de com este treinador não poder colocar em prática o seu sistema, que pressupõe uma grande aposta na formação. “Mas são só os jogadores que estão mal?”, ouviu-se o diretor desportivo responder aos adeptos em fúria depois do desaire no derby.
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