Eminências Pardas (11): Txiki Beguiristain
“A gastar 1.600 milhões de euros em dez anos, vindos do bolso sem fundo do xeque Mansour, também eu”, dirão muitos. Mas há mais em Beguiristain do que a facilidade para pagar o que o mercado pede.
O momento definidor na carreira de diretor desportivo de Txiki Beguiristain já aconteceu em 2008. Na altura, o antigo extremo basco que Cruijff sempre destacou pela “inteligência” veio a Lisboa com Ferrán Soriano e Marc Ingla, dois vice-presidentes do FC Barcelona, para falar com José Mourinho. Dois anos depois de ele lhes ter dado a Liga dos Campeões, a direção de Joan Laporta decidira despedir Frank Rijkaard e tinha o treinador português debaixo de olho para lhe suceder. Em três horas de reunião, Mourinho fez uma brilhante apresentação do que queria para o Barça, mas os três visitantes voltaram a casa com uma certeza: “tem de ser Guardiola”. A razão, o próprio Beguiristain explicou-a anos depois: “Mourinho iria centrar nele as atenções que nós queríamos viradas para o plano de jogo”. É esta coerência em torno de fatores como o estilo, o compromisso, o equilíbrio e o talento que faz de Beguiristain muito mais do que um grande gastador ou que um diretor desportivo que já foi quatro vezes campeão espanhol e cinco vezes campeão inglês, juntando-lhe duas Ligas dos Campeões e um Mundial de clubes.
Joan Laporta comunicou depois a Guardiola que o escolhido era ele. “Não tens tomates!”, provocou-o o então técnico do Barcelona B. Mas, suportado por Soriano e por Beguiristain, o presidente foi até ao fim com a escolha. Começava ali a fase mais brilhante da história do clube catalão, que na época seguinte venceria a Liga espanhola, a Taça do Rei e a Liga dos Campeões, às quais somaria depois, na segunda metade de 2009, as Supertaças de Espanha e Europeia e o Mundial de clubes. Abria-se assim, com muito sucesso, a parceria duradoura entre um vice-presidente financeiro, um diretor desportivo e um treinador – hoje, Soriano, Beguiristain e Guardiola estão os três no Manchester City, o clube que uniu o que o universo eleitoral blaugrana tinha afastado. É que, depois de terem apoiado Lluis Bassat, o candidato “cruijffista”, nas eleições de 1999, Guardiola e Beguiristain viram-se como adversários no escrutínio de 2003: Pep continuou com Bassat, de quem era candidato a diretor desportivo, ao passo que Beguiristain e Soriano se passaram para a candidatura de Laporta, o ex-apoiante de Bassat que viria a ganhar as eleições. E fê-lo com base numa ideia de criação de um círculo virtuoso entre jogadores mundialmente reconhecidos, capazes de fazer crescer a receita, e jovens formados em casa, mais capacitados para transportar os valores que o clube pretende fazer seus.