Em Famalicão, o futuro começa agora
O FC Famalicão ganhou o campeonato nacional de sub19 e até tem dois jogadores nos pré-selecionados para o Europeu. Mas ali ninguém duvida que é a partir de agora que as coisas vão apertar.
À entrada para a última ronda, no passado fim-de-semana, o FC Famalicão era a única equipa que dependia de si mesma para ser campeã nacional de juniores, ou de sub19, como agora se diz. Problema: precisava de ganhar ao Benfica para impedir que o FC Porto, vencendo em casa o Estoril, assumisse a primeira posição em cima da linha de meta. Ou que, conquistando eles os três pontos, os encarnados aproveitassem uma improvável escorregadela portista para renovarem o troféu ganho na época passada. A tarefa foi cumprida com eficácia e estrondo pelos miúdos comandados por Vítor Amorim Barros. Foram 5-1 ao Benfica, com 2-0 ao quarto-de-hora. O FC Famalicão festejou ali um título de campeão nacional que, ao longo da história, só oito clubes tinham ganho além dos três grandes. E que, no século XXI, só o FC Alverca (em 2002), o Boavista (em 2003) e o SC Braga (em 2014) tinham conquistado ao domínio dos três emblemas que são quase sempre avassaladores nas seleções nacionais dos escalões jovens.
Para responder à primeira pergunta – porquê o FC Famalicão? – é importante perceber uma coisa. E para nos ajudar a entendê-la podemos servir-nos da lista de pré-convocados para o Europeu da categoria, divulgada a meio da semana por Joaquim Milheiro, o selecionador. Lá estão dois jogadores do FC Famalicão, mas se um, o médio Gustavo Sá, anda tão ocupado com a equipa sénior que não alinhou uma só vez pelos sub19 esta época, o outro, o defesa-central Hugo Oliveira, passou a maior parte da época nos sub23, jogando apenas cinco vezes pela equipa de Vítor Amorim Barros, quatro das quais na reta final da fase de apuramento do campeão. Entre os 22 dos 24 pré-convocados de Milheiro que atuam no futebol português – e na lista já faltam os leões João Muniz, Essugo, Afonso Moreira e Chermiti, reservados por Rúben Amorim para a pré-época do Sporting, e o benfiquista João Neves, que vai aos sub21 – só os portistas Gabriel Brás, António Ribeiro, Luís Gomes e Jorge Meireles tiveram na equipa de sub19 o seu habitat preferencial. Os outros – até os dois do FC Famalicão – jogaram mais nos patamares acima, sejam eles os sub23, as equipas B ou até as formações principais.
Foi um pouco por aí que comecei a demanda para entender o sucesso do FC Famalicão. Há um par de meses, quando a proeza começou a parecer possível, comecei a perguntar o que se passava a quem sabia. “Isso é porque os grandes têm os melhores jogadores a alinhar mais acima”, diziam-me. E é verdade. Mas também o FC Famalicão o faz. “Tínhamos nos sub23 quatro atletas que poderiam jogar cá”, disse-me já esta semana Vítor Amorim Barros, que reservou um dia para atender uma série de jornalistas subitamente interessados na sua equipa. Havia Hugo Oliveira, que ainda apareceu em quatro das últimas cinco jornadas dos sub19, mas havia também o defesa José Macedo, o extremo sueco Leonardo Oliveira e o avançado brasileiro Pablo. “Tínhamos dois jogadores na equipa A que poderiam jogar cá e não vieram”, prosseguiu Vítor Amorim Barros. “O Gustavo Sá nem jogou por nós. E o Pablo começou nos sub23, ainda jogou pelos sub19 quando a Liga Revelação esteve parada, porque aquilo pára por bastante tempo, mas depois seguiu o caminho dele nos sub23 e na equipa A e já não voltou sequer para a altura decisiva do nosso campeonato”, acrescentou. O que se passou então? É simples. Aconteceu aquilo a que o treinador do FC Famalicão chamou “o melhor dos dois mundos” no acolhimento de jogadores dispensados pelos grandes e a isso se juntou a repetição do que já se tinha passado, por exemplo, com a equipa do SC Braga que foi campeã em 2014 e que Reko Silva, na altura capitão desse grupo e hoje médio do FC Penafiel, atribuiu à união do coletivo. “Não tínhamos as melhores individualidades, mas éramos muito unidos e formámos a melhor equipa”, disse-me Reko, também esta semana. É por isso que para os miúdos que se sagraram campeões nacionais de sub19 pelo FC Famalicão, o futuro começa agora.