E você? Preferia ser inútil ou bandido?
O que levou à troca de acusações entre Pinto da Costa e Varandas, que alastrou a Vieira? Comportam-se como adolescentes inúteis ou querem manipular agentes externos e assumem que são bandidos?
Jorge Nuno Pinto da Costa sugeriu que Frederico Varandas é inútil como dirigente desportivo, dizendo que ele “prestará um serviço ao Sporting quando regressar à medicina”. Varandas respondeu recordando o Apito Dourado e as escutas reais mas judicialmente invalidadas, para deixar implícito que Pinto da Costa é “um bandido”. Esta troca de palavras, que começou com a decisão do VAR, Tiago Martins, aconselhar o árbitro Luís Godinho a reverter o tal penalti e expulsão de Zaidu, no clássico de Alvalade, ativou os atentos polícias da moral pública (alheia), sempre prontos a condenar os excessos, e animou os adeptos sequiosos de escândalos mais folclóricos. Mas sobretudo veio mostrar quão frágil é o equilíbrio das relações entre os líderes dos maiores clubes nacionais e que eles estão convencidos de que mais do que o razoável se decide ali, na forma como eles se insultam e ridicularizam uns aos outros, perante o barulho das luzes e a exposição televisiva.
Na verdade, pouco interessa se um ou o outro tiveram razão. Varandas tem tido mercados sucessivos para contrariar a inaptidão das decisões da sua equipa dirigente na construção do plantel de um Sporting que está hoje incontestavelmente mais fraco no plano das soluções do que quando ele chegou. Pinto da Costa escapou à punição do tribunal no caso Apito Dourado mas não ao julgamento da opinião pública, que não tem tanta capacidade como os juízes para colocar de lado aquilo que ouviu no que toca à adulteração da verdade desportiva que o caso deixou bem à mostra. Mas no fundo nem um nem o outro falavam para ter razão. Primeiro porque lhes bastaria ter razão dentro da bolha à qual se dirigiam. O presidente do FC Porto usava a sua já proverbial ironia para fazer rir os adeptos do seu clube, que nesta e noutras questões estarão sempre com ele – provavelmente até o terço que votou contra ele nas últimas eleições terá sorrido. O seu congénere do Sporting fez peito para convencer os adeptos do clube dele de que, afinal, não é frouxo e pode falar tão grosso no confronto com os poderes como o seu antecessor, Bruno de Carvalho – e já deviam ter-lhe dito que essa é uma batalha perdida.
A questão é que esta escalada no nível do insulto visou sobretudo o exterior. Aliás, a abertura das hostilidades deu-se logo em Alvalade, minutos depois do clássico, quando Varandas veio queixar-se da decisão da equipa de arbitragem no tal lance que pôs fim à primeira parte. E logo à partida se percebeu que o que estava aqui em causa era, tao só, o equilíbrio de poder. Quando se revoltou contra a reversão da decisão do árbitro de campo, o presidente leonino foi claro: “Sabem quando é que este penalti era revertido na Luz ou no Dragão? Nunca!”. Logo ali sentiu a necessidade de trazer ao debate o outro “player”, o Benfica. E o próprio Pinto da Costa, na mesma entrevista que utilizou para ridicularizar Varandas e remetê-lo à condição de agente irrelevante, abordou demoradamente a situação benfiquista. Mesmo quando se referiu a Noronha Lopes como “o dos hambúrgueres”, colocando-o abaixo de Luís Filipe Vieira na luta eleitoral que se avizinha, o verdadeiro alvo era o presidente que concorre à reeleição nas eleições da próxima quarta-feira. “Até parece que é ele quem escolhe os candidatos que se lhe opõem”, gozou. E o próprio Vieira entrou na conversa, a pretexto da versão que Pinto da Costa revelou do corte de relações, que mete a eleição de Pedro Proença para a liderança da Liga, para a contrariar. “Estavam lá seis pessoas e ouviram. Os outros que me chamem aldrabão”, comentou.
No fundo, convencidos de que têm de levar a melhor na guerra de palavras, os presidentes dos três clubes parecem adolescentes com a cara cheia de borbulhas do acne a ridicularizar o professor de matemática para impressionar a miúda mais gira da turma. E, das duas uma. Ou há razões reais para isto e os presidentes assumem que o futebol se decide mesmo nestas querelas e na tentativa de influenciar agentes externos – como os árbitros – e, nesse caso, acham que são mesmo bandidos. Ou, quando crescerem – eles e quem lhes trata da estratégia – vão perceber que estão a comportar-se como inúteis, porque andaram a perder tempo com tolices em vez de tratarem do que é verdadeiramente importante. Exemplo? A diferença de tratamento a que o futebol continua a ser sujeito face a outras atividades desportivas, como se percebeu ainda esta semana com a presença de público completamente descontrolado nas bancadas do GP de Portugal em Fórmula 1 face aos estádios despidos em que se joga a Liga.
Ora agora pensem. O que preferiam ser? Inúteis ou bandidos?