E se Rúben Amorim for embora
O Sporting pode fazer contas aos 30 milhões da cláusula de rescisão do treinador, mas 32 milhões foi o que o clube torrou nos oito meses anteriores à sua chegada, em jogadores que nunca aproveitou.
O diário francês “Le Parisien” colocou ontem Rúben Amorim no lote de treinadores nos quais o Paris Saint-Germain estará a pensar para substituir Maurício Pochettino e o facto, além de servir para ilustrar o que há dias aqui vos dizia sobre distorções de mercado, é encarável de diferentes maneiras consoante o ângulo pelo qual o observamos. Amorim pode sentir-se ao mesmo tempo intrigado e ansioso, os sportinguistas seriamente preocupados e os parisienses esperançados. Uma coisa, porém, deve ser mais ou menos consensual: se o PSG bater os 30 milhões de euros da cláusula de rescisão de Rúben Amorim, isso implicará um retrocesso grave no projeto do Sporting e, muito possivelmente, a incapacidade de os leões continuarem a competir ao mais alto nível. Porque é hoje claro que há um Sporting antes e outro depois da chegada do treinador.
Comecemos por Paris, que para já é de Nasser Al-Khelaifi que tudo depende. O executivo qatari que conseguiu a renovação de Mbappé tem pela frente uma decisão importante, que é a escolha do treinador. Zinedine Zidane, que parecia ser o sonho dele – ou do emir Al-Thani –, não está interessado em voltar ao futebol de clubes, quer esperar pela seleção francesa até Dezembro, que deve ser quando Didier Deschamps vai entregar o testemunho, pelo que a luta pela sucessão de Pochettino se abre a outros nomes. Ora, o mais imponente de todos é o de Antonio Conte, o italiano que foi campeão pelo Inter em 2021 e que conseguiu, “in-extremis”, qualificar o Tottenham para a Liga dos Campeões. Conte é, reconhecidamente, um tipo difícil, permanentemente insatisfeito, sempre exigente. Saiu de Milão porque o clube tinha de desinvestir e se preparava para vender. E em Inglaterra diz-se por estes dias que os Spurs querem comprar-lhe a lealdade com seis aquisições de vulto, capazes de lhe satisfazer um apetite permanente e voraz por novos jogadores.
Ora Conte e o PSG parecem ser feitos um para o outro... até ao ponto em que entram dois entraves. Ou três. Um é o poder do balneário na equipa parisiense. Já no período pré-Messi houve casos em que Thomas Tuchel foi ultrapassado pela direita, por exemplo, sempre que Neymar queria umas mini-férias, que isto de ser jogador da bola não pode ser só trabalhar, e ia tratar delas diretamente com Al-Khelaifi. Este olhava para a sua maior estrela e não sabia dizer-lhe que não. Quando chegou Messi, surgiu um peixe ainda maior. E Mbappé certamente há-de ter ganho alguma influência, a ponto de também ter uma palavra a dizer – quanto mais não seja para restabelecer alguma ordem, que ele ainda é jovem e quer ganhar coisas que os outros já ganharam. Colocar ali Conte pode ser como recuperar aquela cena do Rumble Fish de Coppola, em que os dois peixes precisam do vidro do aquário a separá-los para evitar uma luta até à morte. Não quer dizer que o PSG precise de um treinador “mole”. Precisa, acima de tudo, de um treinador que saiba puxar pelo melhor de cada um dos elementos do balneário. Porque estas coisas não se fazem só a avaliar currículos e a somar títulos – se assim fosse, de resto, em Portugal os parisienses olhariam primeiro para Sérgio Conceição, que ganhou três dos últimos cinco campeonatos e já esteve duas vezes com o FC Porto nos quartos-de-final da Liga dos Campeões.
E é aqui que entra o tal outro entrave, a distorção de mercado, aqui personificada por Antero Henrique – cunhado de Amorim e ainda um nome importante na tomada de decisão do PSG – e Luís Campos – o diretor desportivo que Mbappé terá recomendado quando renovou pelo clube. Os dois conhecem Amorim – essa é a distorção – mas desenganem-se se acham que o recomendam para lhe fazer o jeito: se o fizerem é porque acham que ele é o homem certo, não só no trabalho semanal como no plano da ideia de jogo e em questões de liderança. E Amorim, o que pensará disto? Ainda há dias prometeu que iam ter de levar com ele por mais um ano, porque a sair queria fazê-lo a ganhar. Como qualquer treinador, ele terá, certamente, um plano para a carreira e objetivos espaçados e bem definidos no tempo. Não há treinador que comece a ganhar que não pense na hipótese de um dia vencer a Champions. A questão é que esse é o objetivo imediato do PSG. E deve ser preciso um foco imenso para resistir à tentação de queimar etapas. Se vier o convite, Amorim terá de decidir entre atacar esse objetivo já – e ficar na história se o lograr ou, na pior das hipóteses, entrar no carrossel das grandes ligas mesmo que o falhe, como o falhou Tuchel – ou ganhar lastro como o tipo que disse não ao Paris Saint-Germain. Isso também é currículo, mas pode dar-se o caso de a oportunidade não voltar a apresentar-se.
Menos discutível é o plano em que ficaria o Sporting. Muito criticado pelos dez milhões que pagou quando acionou a cláusula de rescisão que o treinador tinha com o SC Braga, Frederico Varandas poderia sair do negócio com um lucro de 20 milhões de euros e vários títulos no bolso. Se o PSG bater os 30 milhões da cláusula isso sempre é melhor do que deixar sair o treinador a custo zero no fim do contrato, defenderão alguns. O problema é: e a equipa? Este Sporting dos 85 pontos – o total que fez nas últimas duas épocas – é obra de Amorim, da sua liderança, da sua ideia de jogo e sobretudo do modo como o clube passou a contratar os jogadores certos para essa ideia. Quando Amorim quer um jogador, é “aquele” jogador. Se não for “aquele” prefere nem ter nenhum e safar-se com os miúdos da casa. E isso contrasta em absoluto com a política de contratação por atacado que ao longo dos anos levou a vários fracassos rotundos.
Em vez de esfregarem as mãos com os 20 milhões de euros de lucro que podem vir a ter com Amorim, os responsáveis sportinguistas devem pensar que nos oito meses anteriores à chegada do treinador a Alvalade torraram 32 milhões no empréstimo de Jesé e nas aquisições de Eduardo, Rafael Camacho, Vietto, Rosier e Sporar. Vietto saiu por 3,5 milhões, Rosier vai valer um pouco menos de cinco milhões quando o Besiktas acionar a opção de compra e o lucro potencial da operação Amorim não chegaria para pagar os outros quatro. E até pode não ser um caso de “Depois de Amorim... o caos”, mas esse é um problema bem real. Não só pelo atraso que isso significaria para a próxima época, mas porque, de todos os nossos grandes, o Sporting é aquele que mais depende do seu treinador.
O RA decidir sair para o PSG seria um contrassenso. As suas ações e o seu discurso perderiam credibilidade. Ir para um MU ainda me faria sentido, agora PSG? Um clube de projectos a curto prazo ? Um clube que não potência jogadores ?
Se..... Amorim sair...
Será a grande chance para o Benfica voltar a ser campeão...Ou não!
Sei lá!