E que tal se jogassem à bola?
A questão fundamental a resolver por esta seleção, a questão que vem antes de todas as outras, é de identidade. É: que equipa queremos ser?
“A responsabilidade é minha”, disse Fernando Santos, pouco depois de um golo de Mitrovic, aos 90’, ter colocado a Sérvia na fase final do Mundial e forçado Portugal a um “playoff” tão incerto como exigente. Mas é claro que a responsabilidade é dele. Havia de ser de quem? Só que muito mais do que vir assumir responsabilidades, o que se pede a Fernando Santos neste momento é que entenda as razões pelas quais uma das mais talentosas gerações de jogadores que Portugal alguma vez conheceu joga cada vez menos enquanto seleção. E as razões, que são subjetivas, na minha opinião não andam muito longe disto: é que cada vez menos se vê na seleção de Portugal a vontade de jogar. Ontem, só uma equipa quis jogar no relvado da Luz e essa equipa foi a Sérvia. Portugal voltou a ser um onze reativo, viciado na exploração dos erros do adversário. E isso não chega.
Antes do jogo, Santos tinha lançado quatro palavras-chave para definir o que era preciso para que Portugal carimbasse já o apuramento para a fase final do Mundial. “Organização, paixão, concentração e confiança”, disse o selecionador. A não ser que, de repente, descubra que não teve uma destas coisas, o que lhe faltou foi uma quinta noção, igualmente fundamental, que é a identidade. Qual é a identidade desta equipa? É uma equipa de bola no pé, mandona, que defende à frente e se instala nos meios-campos adversários, capaz de criar situações de perigo através de movimentações coletivas? Ou é uma equipa reativa, que gosta de levar a bola para a frente em jogo mais direto ou em arrancadas individuais, de forma a manter o grosso do grupo em bases mais recuadas, convidando o adversário a avançar e assim permitindo a criação de espaço nas costas da sua última linha? Sim, já sei o que diz quem não quer discutir isto: “tem de ser as duas coisas”. Claro que tem de ser as duas coisas. Claro que tem de defender quando não tem a bola e atacar quando a tem. Claro que para correr os jogadores têm de colocar um pé à frente do outro. Claro que para estar vivo é preciso respirar, comer e beber...
Mas em termos de identidade, se quisermos influenciar o jogo – e se temos os melhores do Mundo, como o próprio Santos já admitiu várias vezes, temos de querer influenciar o jogo – queremos levá-lo para que bases? Queremos um jogo apoiado, que nos permita subir de uma forma coletiva no campo, que possivelmente nos desorganize no momento da perda – pois o jogo mais coletivo tem dessas coisas, os jogadores saem muito das posições para surpreender os adversários? Ou queremos um jogo mais partido, em que toda a gente fica juntinha, para não ser tão facilmente surpreendida, e depois se dispara na frente em sprints vertiginosos, seja de bola no pé ou à procura do espaço? Já tinha escrito sobre este problema aqui, depois da vitória arrancada a ferros (2-1) contra a Rep. Irlanda, no Algarve, em Setembro, ou aqui, na sequência do empate em Dublin (0-0), na semana passada. Da mesma forma que, aqui, no 360 da RTP3, anteontem, tentei defender, aparentemente sem sucesso, uma ideia de jogo mais coletiva para a seleção nacional.
Se lho perguntarem, certamente que Santos dirá que quer uma equipa mandona. Já o disse várias vezes, aliás, mesmo sem que a pergunta lhe tenha sido colocada assim. No entanto, vai repetindo opções que afastam a equipa dessa ideia. Para o jogo de ontem, por exemplo, trocou Palhinha, que defende mais à frente, que vai ganhar a bola no meio-campo adversário, por Danilo, que se encosta mais aos centrais e leva a que a ação defensiva seja centrada mais atrás. Trocou Bruno Fernandes, que jogou muito mal em Dublin, é verdade – quem é que não foi uma lástima em Dublin? –, mas tem mais passe de criação, mais capacidade combinativa, por Renato Sanches, que até marcou o golo português ontem e assinou algumas arrancadas dignas de nota, mas cuja ação é sempre mais individual e não leva a equipa com ele para bases mais avançadas. Para isso, lá está, é preciso mais envolvimento e menos arrancadas em posse.
E, sobretudo, continua a formar um ataque onde não há uma referência, porque Ronaldo surge como avançado-centro mas gosta de sair da posição para ir à procura de ação – e Jota, que tem como incumbência ser o “alter-Ronaldo”, não é propriamente um avançado de referência, também ele preferindo andar por ali para ferir de surpresa. Em relação isso, como podem ler aqui, há muito que me bato pela colocação do CR7 como segundo avançado. Até porque, mesmo que no papel seja o primeiro, ele depois em campo comporta-se como segundo. E isso acaba por matar as possibilidades das equipas em que ele se insere, como se viu pelo destino de Allegri na Juventus de 2018/19, de Sarri na Juventus de 2019/20, de Pirlo na Juventus de 2020/21 e está a ver-se com Solskjaer no Manchester United de 2021/22. O problema não é Ronaldo, que sabe bem que se torna mais decisivo a jogar assim – ele sim, conhece a sua identidade – mas de quem há anos não é capaz de criar o contexto coletivo que lho permita.
É preciso, no entanto, resistir à tentação de pessoalizar a questão. Ao contrário do que se debate sempre nas redes sociais, a questão primordial não se coloca tanto em torno de jogar este ou aquele. Não é se se joga com dois médios-defensivos ou com dois pontas-de-lança. Não é, muito menos, se joga para ganhar ou para empatar – até hoje, nunca conheci ninguém que jogasse para empatar. A questão fundamental a resolver por esta seleção, a questão que vem antes de todas as outras, é de identidade. É: afinal, que equipa queremos ser? E é aqui que chega a herança de 2016. Depois de dizerem que temos é que correr mais do que os outros, como se a capacidade de sofrimento e o empenho anulassem o talento, lá me dizem que em 2016 foi assim que ganhámos o Europeu.
E eu respondo: sim e não. Sim, a equipa portuguesa de 2016 era uma equipa mais reativa do que mandona. Mas era-o em grande parte porque a isso era forçada, porque não tinha tão bons jogadores. Começando por trás, aquela equipa não tinha Cancelo, que o próprio Santos definiu na semana passada como “o melhor defesa-lateral do Mundo”. Não tinha Rúben Dias, o melhor jogador da Premier League na votação dos futebolistas. Não tinha Nuno Mendes, o lateral esquerdo titular no PSG das estrelas. Não tinha Bruno Fernandes, médio goleador que chegou e se impôs como líder no Manchester United. Não tinha Bernardo Silva, jogador porta-estandarte da ideia de jogo de Guardiola no City.
A equipa de 2016, no entanto, tinha duas coisas que esta não tem. A primeira era uma ideia que se adequava aos jogadores. Já o disse e escrevi várias vezes: no futebol, não há ideias boas e ideias más. Há ideias que se adequam aos jogadores e ideias que não se adequam aos jogadores. Se os jogadores da seleção mudaram, a ideia tem de mudar com eles. A segunda era Cristiano Ronaldo a viver um contexto favorável no clube. Zidane chegara naquele ano ao Real Madrid, levando a equipa a ganhar a Champions – e, lá está, Ronaldo jogava com um ponta-de-lança que funcionava como referência, que era Benzema. Neste momento, Portugal não tem uma coisa nem a outra.
Depois de assumir a responsabilidade pela derrota de ontem, Fernando Santos garantiu que “vamos estar no Qatar”. Pessoalmente, ficaria mais descansado se ou ouvisse explicar como pensa resolver estes dois problemas.
O grande problema desta seleção, além da falta de identidade, é coletvo. Ontem o comportamento defensivo foi simplesmente ridiculo, limitamo-nos a ver jogar. Nunca se percebendo quem pressionava o portador da bola nem quem fazia as compensações. Para piorar um pouco nas substituições vai tirar o jogador que melhor estava a perceber o que o jogo precisava (Bernardo Silva). Mais uma vez a seleção apareceu mal distribuida no campo cheia e equivocos e nem conseguiu ser uma equipa cinica. Desta vez o selecionador optou por um meio campo que nunca tinha jogado junto e que defensivamente esteve simplesmente ridiculo, senão vejamos o primeiro golo da Sérvia em que o João Moutinho tinha 3 jogadores para marcar, alguém se esqueceu de fazer o seu trabalho...Só com individualidades não vamos a lado nenhum!
Vi o jogo, parei de ver o jogonna segunda parte por doia motivos, primeiro, tinha de pôr um bebe de 18 meses a dormir e segunda, o jogo estava demasiado parado, vi uma equipa apática, logo pensei que se perdesse 10 minutos nao faria diferença nenhuma. No final, a equipa que tem como referencia um jogador da championship de inglaterra (admito que a championship tem muita qualidade) ganha a uma equipa com um jogador 5 vezes bola de ouro, um dos melhores centrais e laterais do mundo.... e jogou à pequeno... não me venham com conversas de que a Servia é uma grande equipa. Eles não são. Eles lembram-me Portugal nos anos 90 com garra e alguns bons jogadores. Não há desculpas para o resultado de ontem. Espero mesmo que alguém acorde na federação acorde e veja o que se esta a passar. Concordo que isto é só bola e não nos paga as contas, no entanto se eu paro 90 minutos para ver a selecção eu espero um bom espectáculo de futebol de acordo com o jogadores que temos. O mesmo eu não esperava quando era criança e a selecção tinha anedotas como treinadores e jogadores questionáveis e nunca conseguiamos qualificaÇões. Os meus filhos felizmente só vêem esta selecção como vencedores e grandes estrelas. Espero que eles façam jus a essa reputação nos playoff.