É o Ronaldo! Não é o Ronaldo!
Ainda não é altura de Portugal deixar de contar com Ronaldo. Mas já é mais do que tempo de alguém lhe dizer: "Pára com isso! Vai para a área fazer golos e deixa jogar os outros".
Fernando Santos divulga hoje a lista de jogadores convocados para o play-off de apuramento para o Mundial de 2022 e o momento é solene, tanto para o selecionador como para uma série de jogadores que podem ver os seus nomes ligados à primeira ausência de Portugal na fase final de uma grande competição neste século. Não é a primeira vez que a equipa nacional se vê nesta posição, de ter de jogar um play-off, mas é a primeira vez que tem pela frente a hipótese de um “mata-mata” com uma potência como a Itália, a atual campeã da Europa. E, como sempre aconteceu nos últimos anos da seleção nacional, tudo gira à volta do mesmo: Cristiano Ronaldo. Ainda não é a altura de Portugal dizer que está melhor sem Ronaldo, mas já há muito tempo que é altura de Portugal dizer claramente a Ronaldo aquilo de que precisa dele. E, arrepiem-se os que acusam o capitão de só pensar em recordes e no brilho pessoal: o que Portugal precisa de Ronaldo é que ele seja mais egoísta e se perca menos naquele futebol peripatético que o leva a querer aparecer em todo o lado para construir, criar, passar, driblar. Alguém que ele ouça e respeite que lhe diga: “Pára com isso, homem! Vai para a área e faz golos!”.
Há dois ou três defeitos de análise que se colocam com frequência quando se fala da equipa de Portugal. Um é a acusação de sermos uma equipa demasiado defensiva. Não somos. O problema é que somos uma equipa demasiado individual, como tentei explicar aqui. Outro é que somos uma equipa demasiado envelhecida e que já devíamos ter pegado na geração dos sub21 para a colocar a jogar nos AA, mandando os “velhos” para casa. Apesar de algumas posições específicas não terem sido precavidas com a agilidade necessária – e podemos estar face a um problema no play-off, se se confirmar a ausência de Rúben Dias, exatamente por causa disso – também não o somos, porque a renovação não se faz de forma radical quando se está em competição. Hoje teremos provavelmente algumas novidades, como Vitinha e Gonçalo Inácio, ou eventualmente Tiago Djaló, mas não espero nem recomendo muito mais. O terceiro é o que mais divide os adeptos e tem a ver com Cristiano Ronaldo. Como todas as figuras com enorme pegada digital nas redes sociais, o capitão da seleção nacional polariza opiniões, entre os que o veneram e os que o odeiam. Os que o veneram aparecem a rir sempre que ele faz um par de golos e ajuda a equipa a ganhar, os que o odeiam até nessa altura o acusam de só pensar nele próprio e em recordes. Quando ele não marca, os que o odeiam gritam que ele está acabado e os que o veneram alegam que a equipa não está a funcionar e que ele trabalha muito em prol do coletivo. Ninguém vai convencer uns e outros de que a razão está, um pouco, dos dois lados.
E a seleção nacional navega um pouco ao sabor do vento. Francamente, não sei o que será melhor para este play-off: se o Ronaldo confiante acabado de sair do hat-trick ao Tottenham, que o fez crer que está outra vez em pleno, ou se o Ronaldo irritado por ter sido eliminado da Liga dos Campeões, pelo Atlético Madrid. E não é só por achar que Ronaldo funciona melhor quando está “com fome”, quando no meio da incredulidade perante o facto de haver quem não ajoelhe perante o seu altar, sente que tem alguma coisa a provar. É mesmo por achar que a confiança, no Ronaldo atual, o pode levar a pensar outra vez que tem de ser ele a resolver tudo, num misto de apreciação superlativa das suas próprias capacidades com uma pequena dose de desprezo pelas dos colegas. Já várias vezes escrevi que um dos grandes problemas táticos da seleção é a ausência de um plano para exponenciar o futebol de Ronaldo – só nestes três links, aqui, aqui e aqui, há três tentativas de o explicar –, pelo que me revi nas palavras de Stuart Robson, na ESPN, quando o antigo médio do Arsenal questionou o comportamento tático do CR7 na segunda mão contra o Atlético Madrid. “Foi uma escolha do treinador dizer ao Ronaldo: ‘joga onde quiseres, abre na linha na direita, abre na linha na esquerda’, ou foi o próprio Ronaldo que decidiu que não queria jogar a avançado-centro?”, perguntou Robson no rescaldo do jogo em que Ronaldo voltou ao seu futebol peripatético, percorrendo todas as zonas do campo e depois faltando na que lhe estava destinada, que era a grande-área.
Não foi, certamente, escolha de Ralf Rangnick. Como não deve ser, seguramente, escolha de Fernando Santos, quando Ronaldo faz o mesmo na seleção, sobretudo quando acha que está a top e tem a confiança em altas. Jogar com um nove assim tão móvel até pode ser uma boa ideia, sobretudo numa equipa como a de Portugal, que tem tanta gente habituada a jogar ao meio deslocada para as alas – é Diogo Jota, é Berardo Silva, é João Félix, é Bruno Fernandes, é o próprio André Silva. Mas para fazer isso funcionar são precisas muitas horas no campo de treinos. E ainda que ache que Fernando Santos já devia ter começado esse trabalho há muito, não vai ser seguramente agora, num par de dias antes do play-off, que o acabará. Pelo que, como sempre nos últimos anos, o sucesso ou o insucesso da seleção nacional vão depender de Ronaldo. E não, não dependem de Ronaldo começar de repente a correr como um doido atrás da bola, a pressionar os defesas adversários – não queremos que ele se desgaste nessa tarefa. Não dependem também de Ronaldo ser altruísta e achar que deve ajudar toda a gente em tarefas de construção e de criação, para contrariar os que o acusam de só pensar em golos e recordes – também não queremos que ele se desgaste com isso.
Depende, sobretudo, de termos um Ronaldo verdadeiramente egoísta e capaz de confiar em quem o rodeia no campo, um Ronaldo que queira ser o goleador de uma equipa que, como ando a ouvir dizer há tanto tempo, tem muito talento. Em suma, um Ronaldo que acredite nisso. Porque ele, ao que me parece, nunca se convenceu de tal coisa.
Concordo a 1000% , Ronaldo é o melhor avançado do mundo na área e não fora dela. Com André Silva ao lado ou mesmo João Félix a jogar no apoio a Ronaldo num 4-4-2 acho que somos melhores mas veremos o que o nosso mister F.Santos nos preparou neste tempo que esteve parado para refletir e pensar numa estratégia para este playoff, uma coisa é certa, temos qualidade de sobra nesta equipa sobretudo no ataque. Seria uma pena não os ver em ação no Mundial. Cumprimentos
Tadeia, para não se falar da renovação na seleção opta-se por discutir o assunto de sempre: Ronaldo. Ponto prévio: não acredito que seja por iniciativa própria que Ronaldo seja o faz-tudo. Faltou-lhe, Tadeia, os lançamentos de linha lateral, que ele também os faz, de quando em vez. Pois, Fernando Santos, com tantos anos de seleção não seguiu o exemplo do seu homólogo e vizinho Luis Enrique. Podem vir com todas as análises - que ele lançou mais de 50?! jogadores na seleção -, mas faltou-lhe coragem ou arrojo de os colocar em campo. Talvez o próprio não saiba nem tenha perfil para lidar com tantas estrelas. Já se percebeu que FS é um bom homem, que não quer conflitos com ninguém e que tem jogadores de qualidade a rodos. Exemplos? Ainda esta semana alguém me perguntava porque é que Ruben Neves explode e marca golos de antologia no Wolves e na seleção apaga-se. Mas há também Bernardo Silva, Bruno Fernandes.......