E agora, Sporting?
O Sporting foi pela primeira vez batido por adversários nacionais esta época. Da resposta que der nos próximos tempos dependerá o futuro desta equipa.
A primeira derrota da época em competições nacionais, frente ao Marítimo (0-2), na Taça de Portugal, no primeiro jogo da temporada em que não foi capaz de fazer golos e ainda nem sequer a meio do período em que está a ser submetido a desafios de três em três dias vai ser um grande teste à capacidade desta equipa do Sporting para se distinguir das que usaram a camisola leonina nas últimas temporadas. No Funchal, a equipa de Rúben Amorim já mostrou a parte negativa do que é ser grande – achar que os jogos se ganham sozinhos. Falta-lhe agora demonstrar a parte boa e responder à altura ao desaire, quando se avizinha um ciclo intenso e com jogos particularmente complicados, nos quais se incluem dois (e podem até vir a ser três) clássicos.
O fim do jogo já foi marcado pelo início da dissensão nas redes sociais, onde voltaram a surgir as críticas do costume. A falta de atitude, o presidente que não serve, o treinador que é um estagiário… Dentro do clube, todos saberiam que a derrota haveria de chegar um dia e que as questões que mais importam são a identificação das razões que a justificaram e a forma de lhe reagir. Quanto às primeiras, não haverá muitas dúvidas em apontar à diminuição da qualidade criativa com a ausência de jogadores como João Mário e Pedro Gonçalves, bem como o decréscimo do ponto de vista competitivo sem Adán, Porro ou Coates. Se até os outros grandes, com plantéis bastante mais profundos, acabaram por ceder nos períodos de maior congestionamento de calendário, o desaire do Funchal provou que este Sporting ainda é demasiado verde e curto para num ápice se ver assim privado de cinco titulares – o que destaca a importância da ausência das competições europeias na excelente carreira que a equipa tem vindo a fazer na Liga Portuguesa e estende o alerta às próximas quatro semanas, exatamente até ao primeiro fim-de-semana de Fevereiro, no qual os leões começarão a segunda volta, em Barcelos, frente ao Gil Vicente.
Olhando para o que foi o jogo, conclui-se que Amorim terá arriscado demasiado ao privar a equipa assim de cinco titulares, ainda que só ele e quem está dentro do grupo possa saber que efeitos terá tido o difícil jogo no lamaçal da Choupana na condição dos jogadores. E a questão é que o nível vai subir. Após jogar com o Nacional a 8 e com o Marítimo a 11, os leões vão ter pela frente o Rio Ave (a 15) e o FC Porto (a 19, na meia-final da Taça da Liga). Depois, tudo depende de como correr este jogo: ganhando, o Sporting joga a final a 23, contra Benfica ou SC Braga, tendo de adiar o desafio de campeonato no terreno do Boavista para meio da semana seguinte; perdendo, terá mais folga e um ciclo de sete dias de treino entre a 15ª e a 16ª jornadas. Porque, a seguir, a cadência e o nível voltam a aumentar: após a receção ao Benfica, a 31 de Janeiro, a disputa da 17ª jornada (outra vez no Funchal contra o Marítimo) está marcada para o meio da semana seguinte, presumivelmente a 3 de Fevereiro, antes da tal deslocação a Barcelos, prevista para dia 7.
No fundo, o Sporting está agora a provar o mesmo remédio que os principais rivais tiveram de engolir para encaixar as seis rondas da Liga dos Campeões ou da Liga Europa em dois ciclos de três semanas, nos meses de Outubro, Novembro e Dezembro. Não é uma estreia para os leões, que viveram isto no início da época – Aberdeen FC, FC Paços de Ferreira, LASK Linz e Portimonense em onze dias – e não saíram muito bem na fotografia, mas é algo com que vão ter de lidar nos próximos tempos. A coisa vai piorar antes de tranquilizar – depois, até final da época, só estão previstas mais três jornadas a meio da semana, a 28ª, a 32ª e a 34ª. E, ao contrário de Sérgio Conceição, Jorge Jesus e Carlos Carvalhal, se há coisa que Rúben Amorim sabe com um grau mínimo de exatidão é o total de jogos que vai ter de disputar até final da época: serão 20 ou 21, consoante correr a meia-final da Taça da Liga, mas já sem a incerteza de calendário trazida pelas competições europeias e pela Taça de Portugal.
Mais importante do que a constatação desta evidência, no entanto, é a segunda parte da equação: a reação à derrota. Se as vitórias sucessivas vinham carregando a equipa numa onda de crença, que a ajudava a ganhar os jogos, a principal tarefa do treinador leonino agora será evitar o efeito contrário, impedir que o balneário seja contagiado pelo desânimo. Até porque, ganhando na sexta-feira ao Rio Ave, em casa, os leões poderão passar a noite no sofá a ver quem perde pontos entre os perseguidores (FC Porto e Benfica defrontam-se no Dragão) e voltar a inverter a roda da fortuna. Este jogo com o Rio Ave torna-se, assim, fundamental. Faz sentido: é o próximo. E vai ser assim enquanto a equipa for respondendo.