E agora com Leão
Rafael Leão tornou-se um dos melhores avançados da Europa neste momento. A sua integração no plano de jogo da seleção é o principal motivo de interesse no arranque português da Liga das Nações.
Rafael Leão tanto pode voltar a Portugal na semana que vem com o “scudetto” de campeão italiano no ombro ou não, que este ainda pode cair para o Milan – entretanto tornado favorito – ou para o Inter – que espera uma escorregadela dos rossoneri. Mas uma coisa é certa: vai regressar à seleção nacional com o estatuto reforçadíssimo. Hoje, a Gazzetta dello Sport diz que o Milan já o avalia em 100 milhões de euros e que até esse valor resistirá às ofensivas como a que já foi feita por Jorge Mendes em nome do Paris Saint-Germain, que vê o atacante português como um potencial sucessor para Mbappé. Os parisienses descobriram em Leão a capacidade para contribuir com golos, surgindo com frequência no meio a partir da esquerda, o que de certa forma acalenta a esperança de que possa ser ele também o complemento ideal para os últimos tempos na equipa nacional de Ronaldo, que tem de jogar no meio mas não se fixa lá.
Na entrevista que lhe fiz na semana passada – e que pode ver aqui –, toda ela muito centrada em temas táticos e questões de rendimento da seleção, Fernando Santos reconheceu que a propensão de Ronaldo para sair de zonas de finalização é um problema. Não é um problema de autoridade, como imediatamente muita gente veio procurar estabelecer, porque nunca o selecionador sugeriu sequer que a resolução passaria por tentar amarrar Cristiano à posição. Não. A solução é e será sempre encontrar uma forma de jogar que permita à equipa tirar o melhor de cada um dos seus elementos. E – ainda que eu não esteja totalmente convencido disso, pelo menos não nesta fase da carreira dele – parece ser aceite por todos que o melhor de Cristiano se tira dentro daquilo a que já chamei “futebol peripatético”, que o leva a sair da posição e a desgastar-se deambulando um pouco por todo o campo, participando em todas as manobras que poderão levar a bola a zonas de finalização. Ora, lá está, se Cristiano sai, há que encontrar quem lhe ocupe o espaço.
Tem sido quase sempre Diogo Jota o escolhido para essa missão, até porque ele também a foi fazendo no Liverpool FC. E Jota foi sempre respondendo com golos: foi mesmo o segundo melhor marcador da equipa na fase de qualificação deste Mundial, com cinco golos, apenas um a menos do que o capitão. Contudo, Jota é demasiado semelhante a Ronaldo em termos de caraterísticas táticas, o que no meu ponto de vista faz dele um belíssimo sucessor mas um fraco complemento. Tal como o Ronaldo de há uns anos – o de hoje já não tanto... –, Jota é sobretudo um jogador de profundidade. É fortíssimo na finalização, parece que adivinha onde a bola vai cair, é estranhamente eficaz nas bolas aéreas, tendo em conta a sua compleição física mais ligeira, mas não é aquele avançado de bola no pé que permita à equipa aguentar na frente a chegada dos médios. E, na mesma entrevista, Fernando Santos não só afirma, com todas as letras, que quer uma equipa quase sempre “em ataque posicional”, como que quer uma equipa a jogar “mais com bola no pé e menos com bola no espaço”.
Ora, de acordo com essa forma de ver as coisas, há três complementos possíveis para o CR7: André Silva, João Félix e Rafael Leão. O primeiro tem a vantagem de ser o mais “ponta-de-lança” dos três, o que no entanto só se refletiria na positiva se a equipa nacional passasse a jogar com dois na frente – porque desviar Ronaldo para a ala é inviável, que nenhum treinador no seu perfeito juízo pensaria em pedir-lhe que andasse a dobrar o defesa-lateral. E, depois de a ele ter recorrido numa primeira fase, Fernando Santos parece ter arrumado o 4x4x2 na gaveta das memórias. O segundo ainda não se afirmou verdadeiramente num Atlético Madrid que também parece sofrer com a mesma contradição da seleção de Portugal: tem jogadores para um futebol mais mandão, com mais bola, mais constância ofensiva, mas cai muitas vezes num contra-jogo que os faz sentirem-se desconfortáveis. Além de que também Félix parece sentir-se mais à vontade – e pode tirar-se mais dele – a partir do corredor central. Resta Leão, que segue com onze golos e sete assistências na Série A, sendo não só o melhor marcador como o maior assistente do Milan que está a uma vitória de se sagrar campeão pela primeira vez desde 2011.
Leão tem quase tudo para ser um dos melhores avançados europeus da sua geração. Quando surgiu, no Sporting, houve quem nele visse um Jordão em crescimento, pela agilidade e pela velocidade, bem como pela capacidade técnica. A estas caraterísticas, juntou entretanto a potência física que o torna uma excelente alternativa não só para as fulgurantes arrancadas que empreende pelo corredor em transição ofensiva como para segurar a bola e aguentar as cargas à espera da chegada da equipa. Nuno Gomes, antigo avançado do Boavista, do Benfica, mas também da Fiorentina e da seleção nacional, está mais do que convencido. “É veloz e, além disso, potente, tem grande controlo de bola em corrida e é tecnicamente fortíssimo. Lembra-me Thierry Henry, como já disse Pioli, mas eu juntar-lhe-ia o “Imperador” Adriano, pela força, e em alguns momentos o Ronaldo “Fenómeno”, pela explosão”. Eu não diria tanto, mas que Leão está um craque total, lá isso é verdade. E que a sua integração nos próximos quatro jogos da seleção vai ser o principal motivo de interesse deste arranque da Liga das Nações, disso não tenho dúvidas.
Uma mais valia para a nossa seleção nacional. Não diria que Ronaldo teria de sair ou não ser convocado, mas meterem na cabeça que Ronaldo tem de começar no banco ou ser substituído aos 60 70m para dar lugar a estes talentos, só assim se conseguirá, aos poucos claro, uma reformulação na seleção nacional e tirar proveito destes talentos nos jogos.
O Rafael Leão é um talento natural! Acredito que com trabalho e inspiração será um jogador de top 10 mundial! Fico feliz por se constatar que a ganância do seu pai e do seu anterior agente não tenha resultado na destruiçao da sua carreira!