Descobrir as chaves do autocarro
Dois golos de Ramos permitiram ao Benfica ganhar ao FC Famalicão, mas o mapa do tesouro esteve na capacidade de Otamendi e Grimaldo contrariar a organização do adversário com bolas na profundidade.
O Benfica ganhou por 2-0 ao FC Famalicão e, ainda que com um jogo a mais, aumentou para onze pontos a sua vantagem sobre o FC Porto no topo da classificação da Liga. A história dir-nos-á que o desafio foi resolvido com um bis de Gonçalo Ramos, em dois dos únicos cinco remates (num total de 19) que os encarnados fizeram dentro da área, numa noite em que a organização defensiva minhota os forçou ao jogo com o mais baixo índice de golos esperados (apenas 1,6) no Estádio da Luz na atual Liga. Apesar do talento que indiscutivelmente tem ao seu dispor, João Pedro Sousa mandou a equipa defender com demasiada gente muito atrás, o que desde logo teve dois efeitos: primeiro, dificultou a tarefa ao ataque benfiquista, mas depois também deixou a sua própria equipa sem condições para chegar com perigo perto das redes de Vlachodimos – em toda a partida, só nos três ou quatro minutos depois do primeiro golo encarnado é que o FC Famalicão deu a ideia de poder discutir o resultado para lá do 0-0 com que se deu o pontapé de saída.
A verdadeira história da noite passou, assim, pelas tentativas sucessivas por parte do Benfica para achar as chaves do autocarro famalicense, de forma a tirá-lo da frente da baliza. O FC Famalicão metia os dois laterais, Penetra e Moura, muito por dentro, para que eles não se deixassem surpreender pelas entradas dos atacantes exteriores do Benfica, Neres e João Mário, entre eles e os centrais. Assim sendo, os extremos, Sanca e Ivan Jaime, iam sendo sucessivamente arrastados para trás pela subida dos laterais encarnados, Bah e Grimaldo. Apesar de algumas tentativas de, num primeiro momento defensivo, pressionar a saída de bola do Benfica, isto levou muitas vezes o FC Famalicão a reagrupar e a apresentar uma linha de seis homens à frente da área. E ia forçando a equipa da casa a buscar alternativa às habituais combinações e acelerações de jogo no corredor central, com concentração de jogadores e tabelas a saírem por ali. João Mário percebeu que era preciso meter algum caos na organização adversária e começou por procurar outras zonas, juntando-se por vezes a Neres e a Rafa no lado da bola: Penetra não ia com ele, mas se fosse abriria espaço para Grimaldo, o que também servia ao Benfica. Não resultou, ainda assim, tão bem como o que fez Otamendi, que a partir de determinada altura resolveu ir à procura das chaves atrás da última linha adversária. E foi daí que nasceu o golo que desbloqueou a partida, iam já decorridos 36 minutos.