Decisões e revelações
A última jornada da fase de grupos trar-nos-á grandes decisões, como a que opõe Messi e Lewandowski, e revelações em jogos que à partida contam menos, como a entrada de Rashford e Foden na Inglaterra.
O Mundial já está na jornada decisiva da fase de grupos, mas o que acontece sempre é que há jogos tornados quase desnecessários. Entre os desafios das equipas já apuradas – ou quase – e aqueles de equipas sem reais opções, aparecem, ainda assim, alguns que concentram as atenções. Foi o caso do Equador-Senegal e do Estados Unidos-Irão de ontem, como será o do Austrália-Dinamarca e do Polónia-Argentina de hoje. De todos, o confronto entre iranianos e norte-americanos já teria tudo para concentrar as atenções da imprensa internacional, por questões políticas, o mesmo sucedendo com o desafio entre argentinos e polacos, que põe frente a frente Messi e Lewandowski num cenário que pode muito bem acabar com um deles a caminho de casa já amanhã.
Na manhã em que o New York Times, pela pena de Ben Shpigel, lembra os mais distraídos da chamada Vergonha de Gijón, o RFA-Áustria que está na base da decisão de fazer com que os jogos da última ronda sejam disputados em simultâneo, Louise Taylor, em Doha, antecipa no The Guardian o confronto entre os dois Bolas de Ouro. “Podem os ricos dotes atacantes de Lionel Messi guiar a Argentina até à fase a eliminar ou pode a estranha eficiência de Robert Lewandowski frente à baliza permitir à Polónia eclipsar os favoritos do Grupo C?”, pergunta a enviada do diário britânico. Na verdade, o empate até pode qualificar as duas equipas, mas só se no outro jogo se verificar um resultado a condizer com as necessidades de ambas. E se o que lhe interessa é antecipar todas as contas, o que lhe recomendo é a leitura de um artigo que o El País espanhol fez com quadros onde se descrevem todas as possíveis conjugações de resultados para esta terceira jornada. Já saiu na edição de ontem, mas como eu estava a viajar e não tivemos Entrelinhas, fica aqui o link.
O diário espanhol aborda o Polónia-Argentina de hoje com uma perspetiva histórica e lembra um episódio ocorrido no Mundial de 1974 – de que, francamente, não tinha conhecimento. Federico Rivas Molina conta como, precisando que os polacos ganhassem à Itália para se apurarem, os argentinos ofereceram 25 mil dólares por esse desfecho. Os polacos ganharam mesmo e, batendo o Haiti, a Argentina entrou na segunda fase por ter feito mais um golo do que a equipa azzurra. Mais centrado na atualidade, vale bem a pena deitar um olhar à edição de hoje do Clarín, onde Julio Falcioni, na sua “pizarra”, explica quais acha que são as chaves para que a Argentina se imponha e assim não dependa do resultado do desafio entre México e Arábia Saudita. Não provoca tanto interesse o igualmente decisivo Austrália-Dinamarca, já que as figuras implicadas não são tão chamativas como os dois Bolas de Ouro, e até já há mais gente a centrar atenções no Alemanha-Costa Rica de amanhã. É que o jogo vai ser o primeiro da história do Mundial a ser apitado por uma mulher, no caso a francesa Stéphanie Frappart, cuja história Anthony Clément conta no L’Équipe de hoje.
Antes de entrarmos nos acontecimentos de ontem, se ainda não está esclarecido acerca do autor do primeiro golo de Portugal ao Uruguai, se foi Bruno Fernandes ou Cristiano Ronaldo, experimente ler o texto de Felipe Cardenas no The Athletic, com recurso ao sensor que está na bola. A conclusão é a de que Ronaldo não tocou a bola. A bola deste Mundial, contudo, não apresenta só coisas boas. No Daily Telegraph de ontem, Mike McGrath partira daquilo que tinha dito o inglês Kieran Trippier acerca da leveza da Al Rihla para tentar explicar a falta de golos de livre neste Mundial. Disso não se queixaram os ingleses, que soltaram o talento de Rashford e Foden para poderem ganhar por 3-0 a um pobre País de Gales. Barney Ronay chama a atenção no The Guardian para a mudança operada na equipa por Southgate, ao passo que Jonathan Liew, na mesma edição, vai mesmo mais longe, quando pergunta se será possível a partir de agora deixar cair os dois jogadores. “Southgate tem um dilema nas mãos. Bukayo Saka tem feito um bom torneio; Raheem Sterling é o seu talismã; Mason Mount o seu pilar. Mas tente lá deixar cair Foden e Rashford depois desta segunda parte”, escreve Liew, a antecipar a mudança de Inglaterra para uma defesa a três quando tiver de enfrentar oposição mais qualificada do que as três equipas que teve como adversárias no Grupo B.
No outro jogo do grupo, os Estados Unidos bateram o Irão por 1-0, mas sofreram muito no fim. Vale a pena ler a descrição dos “excruciantes momentos finais” da vitória americana, feita por Paul Tenorio e Sam Stejskal no The Athletic. Como vale a pena olhar para a Holanda na perspetiva de Gakpo, a quem Johan Rigaud chama, no L’Équipe, “um fenómeno”. Quem se apurou também no Grupo A foi o Senegal, que bateu o Equador numa espécie de jogo de “mata-mata”. Jim White, no Telegraph, aconselha o selecionador inglês, que vai enfrentar os senegaleses nos oitavos-de-final, a ter “cuidado”, num artigo em que identifica as forças e as fraquezas dos Leões de Teranga e os coloca ao nível da equipa que venceu a França, então a campeã do Mundo, no Mundial de 2002.
Conversas de Bancada
A Ler:
Tactician, statesman, unlikely populist: the many face of Iran manager Carlos Queiroz, por Oliver Kay, no The Athletic, desenha o perfil do treinador português que lidera o Irão e assumiu em nome pessoal uma batalha com a comunicação social ocidental.
El niño que pidió compasión para Messi, por Lorenzo Calonge, no El País, conta a história da afirmação de Enzo Fernández na seleção da Argentina e vai buscar as suas frases marcantes desde o tempo em que ainda era júnior.
La imposible lucha de Scaloni contra la histeria, por Francisco Cabezas, no El Mundo, explica quem é o treinador que passou de interino a líder low profile de uma Argentina habituada a ter treinadores conceptuais.
De villano a héroe nacional?, por Martín Voogd, no Clarín, é um perfil de Czeslaw Michniewicz, o selecionador polaco, apresentado como admirador de Messi e do futebol argentino. “Mas amanhã não”, explica.
FIFA’s nowhere man, por Barney Ronay, no The Guardian, é um artigo de opinião acerca das cessões da FIFA de Infantino ao grande capital e aos estados autocráticos, sugerindo que há a possibilidade de uma rebelião dos europeus e sul-americanos.
Foden dazzles with latent talent, por Sam Wallace, no The Daily Telegraph, explica que o atacante tem dificuldade em encaixar no Sistema de Southgate, mas que é o talento que faz falta à seleção inglesa.
No wins, few fans… Qatar prove it’s time for every side to earn World Cup place, por Michael Cox, no The Athletic, faz o balanço da participação da equipa da casa, não só dentro como fora do relvado, e lança a ideia de que o organizador devia passar pela qualificação.
L’autre fan-zone, por Alban Traquet, no L’Équipe, é uma reportagem na zona industrial de Doha, onde a organização criou um espaço próprio para que os trabalhadores migrantes pudessem ver os jogos do Mundial.
Reculer pour mieux briller, por Damien Degorre, no L’Équipe, descreve as mudanças no jogo de Griezmann, que aparece neste Mundial mais como terceiro médio do que como segundo ponta-de-lança.
Time to bail out: Wales legen looks weak and ineffective, por Ben Fischer, no The Guardian, faz as contas ao dececionante Mundial jogado por Gareth Bale, a estrela de quem Gales esperava um upgrade.
China appears to limit crowd shots to avoid zero-Covid comparisons, por Daniel Victor, no The New York Times, explica como um delay de 30 segundos nas transmissões da TV chinesa permite que a realização substitua os planos com muita gente aglomerada.
A Ouvir
Ouvir o Football Ramble é sempre um bocado bem passado, porque este é, possivelmente, o show mais divertido e criativo sobre futebol que há no universo dos podcasts. Em dia de jogo entre a Inglaterra e o País de Gales, o exercício ainda se torna mais atrativo. Marcus Speller, Jim Campbell e Pete Donaldson conversam, como sempre de forma muito informal, sobre o jogo de Inglaterra em busca da influência do cantor Chesney Hawkes, que atuou ao intervalo, na melhoria da equipa inglesa para a segunda parte, e respondem ao anúncio de Gareth Bale, de que continua disponível para representar a sua seleção, questionando se essa é uma boa notícia para Gales. O episódio de hoje alarga-se ainda à análise do Estados Unidos-Irão e já faz uma primeira antecipação do Senegal, que vai ser o próximo adversário dos ingleses neste Mundial.
A ver
Austrália-Dinamarca, 15h, RTP1 e Sport TV2
Tunísia-França, 15h, Sport TV1
Polónia-Argentina, 19h, SIC e Sport TV1
Arábia Saudita-México, 19h, Sport TV2