Candidatos? Mais: são favoritos!
O Sporting já ganhou a todos os rivais, viu-os tentar encaixar no seu 3x4x3, vai ter dois meses bem menos atribulados e reforçou-se bem. Já não é só candidato: é favorito a ganhar esta Liga.
Semana após semana, Rúben Amorim tem sido confrontado com a mesma questão: “é agora que acha que o Sporting é candidato ao título?” O treinador responde sempre com o “jogo-a-jogo” e ainda ontem o repetiu: “Se antes do último jogo estivermos nesta situação, assumo a candidatura”, disse. Mas este Sporting já é mais do que candidato. Neste momento é o favorito à conquista da Liga de 2020/21. Porque finalmente sacudiu para trás das costas o medo que o fazia tremer antes dos jogos com os outros grandes, porque são estes que procuram encaixar no seu sistema, porque vai ter pela frente dois meses muito mais tranquilos do que os rivais e porque, mesmo gastando acima do razoável, se reforçou bem para a segunda metade da Liga.
O golo de Matheus Nunes, aos 90+2’ do jogo de ontem com o Benfica, valeu mais do que três pontos. Logo à partida valeu seis: os três que o Sporting assegurou e os três que o rival deixou pelo caminho. Mas não foi só. Depois de já ter ganho ao SC Braga (2-0 para a Liga e 1-0 para a Taça da Liga) e ao FC Porto (2-1 na Taça da Liga), faltava à jovem equipa de Amorim ganhar ao Benfica para provar a si mesma que estava à altura dos rivais, que os resultados recentes com eles não tinham de a assustar. Afinal, nos seis jogos contra os outros três candidatos, na Liga passada, os leões tinham somado uma vitória (SC Braga, ainda com Keizer, em Agosto de 2019) e cinco derrotas. Há dois anos o balanço também não tinha sido famoso, também só com uma vitória, dois empates e três derrotas. Ao Benfica, o Sporting não ganhava na Liga há mais de cinco anos. Se faltava ao Sporting esta prova, a equipa já mostrou que pode superá-la.
O jogo de ontem foi equilibrado? É verdade. Os leões tiveram melhores situações de perigo, realidade expressa pelo facto de, de acordo com os dados Goal Point, terem acabado os 90 minutos com um índice xG (Golos Esperados) de 0,9, contra 0,3 do adversário. A vitória final pode ser encarada com naturalidade. Mas os benfiquistas asseguraram mais volume de jogo – de acordo com o mesmo GoalPoint tiveram mais posse, mais eficácia de passe, tanto global como vertical, ou mais ações defensivas no meio-campo adversário –, pelo que se o resultado fosse o oposto também poderia ter sido encarado com a mesma naturalidade. O que apenas vem demonstrar uma coisa: melhor adaptação do Sporting às contingências da partida, o que tem a ver com uma maior familiaridade com o sistema de jogo que ambos escolheram.
Tal como o FC Porto já fizera, também o Benfica mudou para encaixar no sistema que Amorim escolheu, trabalha regularmente e do qual não abdica, o que por si também é sinal de poderio leonino e de respeito dos rivais. Ontem, o Benfica apresentou-se no 3x4x3 do Sporting, de modo a potenciar o jogo de espelhos e as referências individuais de marcação. Confiando na maior qualidade/agressividade dos seus, Jesus conseguiu condicionar o leão. Sobretudo depois da saída de Jardel e da entrada de Gabriel para o meio-campo, com recuo de Weigl, ganhou no meio-jogo, mas perdeu nos detalhes, porque o adversário sentia-se muito melhor naquele fato, sabia até onde é que o tecido esticava sem rasgar e levou o sistema aos limites: não se viu no Benfica, por exemplo, um médio com o raio de ação de Matheus Nunes, que já nos descontos apareceu na área para marcar o golo da vitória.
Assegurando a manutenção de quatro pontos de avanço sobre o FC Porto e aumentando a distância para o Benfica para os mesmos nove a que já deixara o SC Braga, o Sporting segue no lugar do condutor, mas tem ainda mais uma vantagem: é que os passageiros vão ter mais com que se preocupar nos tempos mais próximos. Não é só o facto de Rúben Amorim saber que vai ter oito jogos até final de Março e que entre eles estará a deslocação ao Dragão, para defrontar o FC Porto, como ponto alto de dificuldade. É a noção de que, no mesmo período, os rivais terão 12 partidas para fazer – Benfica e SC Braga até podem ter 14. São pelo menos mais quatro, duas na Taça da Portugal e duas nas provas europeias. Além de que entre esses 12 jogos haverá alguns de grau de dificuldade elevado. Nos próximos dois meses, além de receber o Sporting num jogo que pode ser de tudo ou nada, o FC Porto defrontará por três vezes o SC Braga e por duas a Juventus. O SC Braga, além dos três desafios com o FC Porto, tem dois com a AS Roma e encerra Março a receber o Benfica. E, mesmo que se contem as meias-finais da Taça de Portugal, com o Estoril, na conta de desafios mais tranquilos, até o Benfica tem os mesmos 12 jogos, incluindo dois com o Arsenal e um como SC Braga. Repete-se, portanto, em Fevereiro e Março, o cenário que permitiu ao Sporting construir parte da sua vantagem, em Outubro e Novembro.
Para enfrentar estes meses que faltam de Liga, ainda por cima, os leões asseguraram ontem Paulinho, aquele que Rúben Amorim voltou a considerar “o melhor número nove do país”. Pagaram mais do que o razoável pelo jogador, mas parece claro que, com o ex-bracarense no lugar de Sporar, com Matheus Reis em vez de Borja e com João Pereira a fazer dobra a Pedro Porro – que não tinha suplente – o Sporting fica desportivamente mais forte. Caberá agora a Rúben Amorim fazer perceber isso dentro de um balneário que, visto de fora, parece ser a maior força da equipa. A forma como o treinador geriu o affaire-Palhinha, mantendo sempre a confiança em Matheus Nunes até o ver marcar o golo da vitória, ou o facto de ontem o Sporting ter acabado a ganhar o jogo sem João Mário e sem Pedro Gonçalves, por exemplo, são demonstrações de que em Alvalade se leva a sério o lema transformado em hashtag: “Onde vai um, vão todos”. A ser assim, nos 18 jogos que lhes faltam até acabar a época, os leões não são só candidatos: são neste momento os favoritos à conquista da Liga.