Campeão em tempo de guerra
O Shakhtar reconquistou o título na Ucrânia, mesmo tendo perdido as suas estrelas estrangeiras, em fuga à invasão russa. E o oligarca Akhmetov foi por fim claro na escolha de um lado.
Quando o Shakhtar Donetsk ganhou o 14º título de campeão da Ucrânia, numa Liga que se jogou só na zona Ocidental do país, sem público e apenas em estádios dotados de abrigos anti-aéreos, Rinat Akhmetov foi absolutamente claro. “A alegria das vitórias no futebol só voltaremos a conhecê-la no dia em que conseguirmos a vitória principal, que é a vitória sobre o inimigo, quando libertarmos as nossas cidades e reestabelecermos a paz na nossa terra”, disse o oligarca que é dono do clube e que, durante muitos anos, até por ter sido deputado e maior financiador do entretanto extinto Partido das Regiões, de Viktor Yanukovich, foi sempre visto como um ponta-de-lança russo na região do Donbas. A Donbas Arena, construída para acolher o Europeu de 2012 e uma equipa do Shakhtar que, com açucarado sotaque do Brasil, chegou a mostrar qualidade na Europa, foi destruída em 2014 por cargas de artilharia de uma guerra que empurrou os futebolistas de laranja para Ocidente mas que nem assim levou os seus dirigentes a manifestarem-se claramente acerca do lado em que estavam, se no dos separatistas pró-russos em cujo nome Vladimir Putin invadira aquela zona fronteiriça após a deposição do presidente Yanukovich, seu aliado, ou no dos nacionalistas que procuravam recuperar o terreno. Até agora. Pelo meio, Akhmetov, dono por exemplo da Azovstal, a siderurgia de Mariupol que serviu de bastião de resistência aos últimos defensores ucranianos na cidade, viu todos os seus bens na região do Donbas confiscados pelo ocupante russo. Não deve ter gostado.