As seleções a complicar a pré-época
Quando os treinadores começam a preparar as dinâmicas dos seus onzes, muitos jogadores partem para as seleções. Vai ser complicado, mas haveria solução?
Mesmo que respeitantes a jogos de preparação, as primeiras transmissões televisivas da época fazem com que estes dias se tornem interessantes. Ainda não se viram FC Porto e SC Braga, que por não terem eliminatórias preliminares nas competições europeias estarão ainda numa fase um pouco mais prematura da temporada, mas Benfica, Sporting e Rio Ave já se prestaram às provas da TV, nas quais se percebeu que têm ideias novas em campo – o que nem é de estranhar, porque dois dos três clubes também têm treinadores novos. E é agora que, sobretudo os dois primeiros, vão perder parte substancial dos plantéis para as seleções nacionais. Também eu sinto falta do futebol de seleções, mas esta situação faz pouco sentido e, mais do que evitando os confrontos entre eles nas primeiras jornadas da Liga, como se fez no sorteio, era dela que os clubes que vão jogar para a Europa daqui a duas ou três semanas deviam ter sido protegidos.
O Rio Ave, neste particular, não será tão fustigado. Mas no onze que fez alinhar ontem contra o AFC Bournemouth, Jorge Jesus já sabe que vai deixar de contar com os dois defesas centrais titulares, Rúben Dias e Vertonghen, bem como com o ponta-de-lança, Seferovic, todos de partida para as seleções portuguesa, belga e suíça. Pelos centrais se espera que comece toda a construção de futebol da equipa, enquanto que a questão de Seferovic, mesmo não sendo fundamental, retira algum peso à sorte que Jesus teve por não perder Pizzi, que ele está a readaptar ao corredor central, como terceiro médio/segundo avançado, e cujas combinações com o ponta-de-lança dependerão muito dos minutos que vão acumulando em parceria. Até pode alegar-se que o titular para a posição ainda está por chegar, seja ele Darwin Nuñez ou outro qualquer, que por lá continua Vinicius, melhor marcador da última Liga, mas uma mudança estrutural como esta precisa naturalmente de ser muito trabalhada antes de se entrar em competição.
No caso do Sporting, que pela primeira vez em muitos anos nem teve nenhum jogador chamado por Fernando Santos à seleção A, as coisas ainda se complicam mais, porque só nos sub21 vão estar o guarda-redes Maximiano, o defesa-central Quaresma, o ala esquerdo Nuno Mendes e os médios Bragança e Pedro Gonçalves (além de Joelson, Pedro Mendes e Miguel Luís, que para já não contam para Rúben Amorim). Quatro dos cinco têm fortes hipóteses de serem titulares no arraque da competição. E entre as potenciais primeiras escolhas leoninas, há ainda os casos de Sporar, convocado pela Eslovénia, e de Ristovski, que foi chamado pela Macedónia. Ora, as questões a definir aqui ainda são muitas, até porque por só entrar em competição uma semana depois, o Sporting está mais atrasado na definição de um onze e tem aparecido com equipas misturadas, com prováveis titulares nos dois lados. Que tipo de avançado vai Amorim querer na sua equipa: um que seja mais referência em zonas de finalização, como Sporar? Ou um mais móvel e mais dado a participar em manobras de criação, como Vietto? E onde vai ele encaixar o talento de Pedro Gonçalves: no meio-campo, como um dos dois médios que o seu 3x4x3 permite? Ou como um dos apoiantes do ponta-de-lança no ataque, onde ele tem jogado? Tudo isto seriam questões a trabalhar nos próximos dias, algo que o treinador não vai poder fazer.
Claro que o futebol de seleções faz falta. Que já todos temos saudades da emoção, não tanto de uma Liga das Nações, mas mais dos jogos de qualificação para Europeus e Mundiais. E não teria sido fácil encaixá-lo antes, talvez até na ponta final da época anterior, que já foi tão prolongada, porque esta é a primeira altura em que toda a Europa está a competir, ou pelo menos a preparar-se para a competição. Em Junho, por exemplo, havia países ainda sem futebol (França e Holanda, por exemplo) e outros com os calendários tão preenchidos para conseguirem levar as suas provas até ao fim que seria uma loucura tentar encaixar ali jornadas de seleções. Mas o facto de ter de se mexer com uma pré-época que também vai, em muitos casos, ser mais curta do que deveria, é a prova de que a época de 2020/21 vai mesmo ser única em todos os aspetos e que nem valerá muito a pena os treinadores virem queixar-se. Há pouco tempo disponível para tantos compromissos que estarão agendados e a ideia é mesmo a de se olhar para a frente. Que consequências isso virá a ter na gestão dos planteis e na saúde física e mental dos jogadores, isso cá estaremos para ver mais tarde.