As renovações de contrato no FC Porto
Com a renovação de Sérgio Oliveira, o FC Porto resolveu mais um dos cinco casos que tinha para a época. Faltam Otávio e Marega. E falta perceber por que é que o tema fica sempre para a última hora.
A renovação de contrato de Sérgio Oliveira, que estendeu o vínculo até 2025, é uma excelente notícia para o FC Porto e para o jogador, bem como a prova de que o clube continua a arrumar a casa, ainda que lhe falte resolver os dois dossiers mais intrincados desta época (Otávio e Marega) e seja cada vez mais difícil de entender como é que as coisas ali chegam sempre ao limite. Ao contrário do atual capitão de equipa, que até tinha a perspetiva de esperar pela fase final do Europeu’2020 para decidir a vida, mas já renovou, o brasileiro e o maliano não são convencíveis pela via emocional da ligação ao emblema das suas vidas. Estes terão de ser levados a rubricar novos contratos com coisas mais práticas, como os zeros na transferência bancária a cada mês. E quando assim é as coisas nem sempre correm bem.
Dos cinco casos que a SAD do FC Porto tinha para resolver no início da temporada, três estão tratados: Alex Telles, Pepe e agora Sérgio Oliveira. Começa por ser estranho que, num clube que ainda recentemente perdeu gente de peso a custo zero – casos de Brahimi ou Herrera, por exemplo – e por isso devia estar vacinado contra este vício da procrastinação, se deixe que cinco jogadores assim tão influentes cheguem ao último ano de contrato. Não tenho explicação para esta demora em atacar os dossiers de renovação. Embora haja quem diga que as equipas rendem mais com jogadores em último ano de contrato, pois nessa altura estão a jogar para chamar a atenção do mercado ou do próprio empregador, como forma de exigir uma melhoria de condições, basta olhar para os rivais para perceber que gerem o plantel de outra forma: no Benfica o único jogador a acabar contrato esta época é Jardel, enquanto que no Sporting e no SC Braga não há ninguém nessas condições. Até podem argumentar que assim o clube ganha mais vezes, mas em contrapartida perde mais jogadores com valor de mercado a custo zero e continua numa situação financeira difícil.
Já os desfechos dos casos resolvidos pelo FC Porto não me surpreenderam nem um pouco. Alex Telles resolveu-se como era possível, com uma venda em saldos. O Manchester United pagou em início de Outubro 15 milhões de euros por um jogador que o Transfermarkt avaliava em quase o triplo (40 milhões), mas para o FC Porto era isso ou perdê-lo a custo zero em Junho, porque já se sabia que nunca ele renovaria. Pepe resolver-se-ia naturalmente devido à sua idade (quando se é futebolista, aos 37 anos, já não se querem grandes mudanças na vida), da mesma forma que Sérgio Oliveira seria relativamente fácil de convencer, acenando-lhe com a perspetiva de vir a ser o líder desta nova geração de dragões, o portador da mística. O atual capitão de equipa chegou à Constituição com nove anos, já foi emprestado a seis clubes de quatro países diferentes (Beira Mar, KV Mechelen, FC Penafiel, FC Paços de Ferreira, FC Nantes e PAOK) e voltou sempre, pelo que não seria agora, que está finalmente a concretizar o objetivo de comandar a sua equipa de coração que ia mudar de vida.
Restam os casos mais complicados, mas que ainda assim creio que se resolverão a contento de todas as partes: Otávio e Marega. O médio brasileiro tem 25 anos, o atacante maliano tem 29. Se formos realistas, percebemos que nenhum dos dois vai de repente ser figura de proa de uma grande equipa europeia. Na melhor das hipóteses, o nível que ostentam permitir-lhes-á vir a assinar por uma equipa de meio da tabela numa das grandes Ligas ou seguir para campeonatos irrelevantes no Golfo Pérsico ou na China, em busca apenas do dinheiro e de menos pressão competitiva. Além disso, tanto um como o outro encaixam na perfeição nas ideias de jogo de Sérgio Conceição, razão pela qual têm rendido muito mais nestes três anos e meio do que em qualquer outra altura das suas carreiras. A questão, aqui, vem muito daquilo que estiver na cabeça dos jogadores. O que querem eles nesta fase das suas vidas? Ser figuras importantes de uma equipa de Liga dos Campeões – são quatro presenças nos oitavos-de-final em cinco anos – ou ganhar mais dinheiro e ao mesmo tempo perder mais jogos?
Onde é que os jogadores vão buscar mais alegria de viver? Ao salário, que recebem todos os meses, ou às vitórias, que podem chegar uma ou duas vezes por semana? Continuo convencido de que tanto Otávio como Marega renovarão os contratos com o FC Porto – e se tenho mais dúvidas elas são relativas ao caso do atacante, que por ser mais velho e ter o final de carreira mais próximo pode começar a pensar mais no dinheiro. Ao FC Porto, recordo que não é fácil brincar assim como fogo. É que, atenção: Corona, Mbemba, Diogo Costa, Fábio Vieira e João Mário acabam os respetivos contratos já em 2022. Talvez não seja má ideia começar imediatamente a tratar dos casos deles, a ver se daqui por um ano não estamos aqui a fazer contas outra vez. Até porque neste quinteto há mais valor de mercado imediato (em Corona, por exemplo) e muito mais potencial (nos três campeões europeus de sub19) do que nos cinco de 2020.