As razões de um despedimento
Para se compreenderem as razões que levaram o Tottenham a demitir Nuno Espírito Santo é preciso, primeiro, entender por que razão ele foi contratado. Todos os caminhos vão dar a Antonio Conte.
A contratação de um treinador foi sempre uma forma de um clube demonstrar identidade. Basta olhar para a história: em Portugal, por exemplo, desde os primórdios do futebol que se ia buscar treinadores ingleses para se dizer que se estava na vanguarda. E foi um pouco isso que fez agora o Tottenham, que ao que parece vai ser o primeiro a agarrar Antonio Conte para mostrar que é um clube ganhador. O problema é que, como mostram os números, não é. Desde que o clube foi comprado pela ENIC, em 2001, ninguém ganhou mais jogos ali do que André Villas-Boas, que obteve uns nem por isso extraordinários 55% de vitórias. É pouco, mas não deixa os 47% dos 17 jogos de Nuno Espírito Santo (sexto treinador mais ganhador do século) assim tão longe.
Nuno Espírito Santo é um treinador invulgar e não é apenas pelo visual – ainda que a cabeça rapada e a longa barba grisalha depois casem com a personalidade reservada e as atitudes ponderadas pelas quais sempre optou. Nesse aspeto, Nuno é o anti-Mourinho perfeito. E o Tottenham escolhera Mourinho há dois anos, da última vez que quis mostrar que era um clube ganhador. Em Wolverhampton, Nuno fez um excelente trabalho, porque não precisava de provar nada. O capital injetado pela Fosun ajudava sobremaneira a conseguir os primeiros objetivos a que se propôs, como a subida à Premier League, mas não era de forma alguma garantia da qualificação para a Liga Europa que ele também chegou a conseguir. Agora, no Tottenham, tinha de elevar o nível porque, lá está, o Tottenham continua a achar que é aquilo que não é – um clube capaz de competir com o City, o Liverpool FC, o United ou o Chelsea, esta sim a verdadeira fixação do presidente Daniel Levy.
Chegados a inícios de Novembro, encorajados pelos 0-3 que a equipa apanhou em casa do Manchester United, os dirigentes do Tottenham concluíram que Nuno Espírito Santo falhou. A dois pontos do Manchester United e da posição de qualificação para a Liga Europa. E com os tais 47% de vitórias – se Nuno tivesse ganho mais dois dos 17 jogos que a equipa fez com ele jogos teria 58% de sucessos, suplantaria até Villas-Boas e seria o maior do século. Bastaria, por exemplo, que Nuno não tivesse tomado a opção, por sinal bastante esdrúxula, de mudar todo o onze em jogos da Liga Conferência e transformasse as derrotas (0-1) em Paços de Ferreira e, mais recentemente, em Arnhem, contra o Vitesse, em vitórias, para ser o mais vitorioso do período ENIC.
Isso mudava muita coisa? Não creio, sinceramente. Claro que a opção tem sido justamente criticada, não pelas derrotas em si (a de Paços, então, não significou nada, porque os Spurs seguiram em frente), mas pela ideia que transmitiu aos jogadores que fazem parte do Plano B: a de que não contam e têm zero hipóteses de jogar ao fim-de-semana, como muito recentemente se queixou Harry Winks. E é claro que esta opção é uma das razões para que se conclua que, globalmente, o trabalho de Nuno Espírito Santo no Tottenham não estava a ser bom. A questão, lá está, é que não foi por isso que ele foi agora despedido. Nuno Espírito Santo foi agora despedido porque já não era ele que Daniel Levy e Fabio Paratici queriam num primeiro momento. O presidente e o diretor desportivo do Tottenham queriam alguém que propagandeasse uma identidade ganhadora do clube só pelo simples facto de ali estar: e esse treinador não é o português, mas sim Antonio Conte.
As razões que levaram à escolha – surpreendente, por sinal – de Nuno Espírito Santo no início da época ficarão para sempre no segredo dos gabinetes. Se foi um jeito a Jorge Mendes, que é o melhor amigo de Nuno desde que o então guarda-redes se tornou o seu primeiro jogador representado. Se foi porque Conte, a primeira opção de Paratici, que já com ele trabalhara na Juventus, recusou. Se foi porque Levy, um conhecido forreta, não quis dar ao técnico italiano a garantia de poder gastar à tripa forra, como faz sempre, em cada clube onde dá entrada. Se foi porque, agora, se dizia que Conte podia assinar pelo Manchester United no momento da inevitável saída de Ole Gunnar Solskjaer e o Tottenham não quis deixar-se ultrapassar. Se foi porque Levy achou que Conte seria o suficiente para tirar Harry Kane do estado letárgico em que o capitão do Tottenham está desde que viu recusada a intenção de se transferir para o City. Todas essas razões são possíveis.
Uma coisa, porém, me parece altamente improvável. É Conte dar ao Tottenham aquilo que já deu à Juventus, ao Chelsea e ao Inter Milão: títulos. Porque a verdade é que o Tottenham está muito atrás dos grandes de Inglaterra e para os apanhar seriam precisos muito mais centenas de milhões do que as que Daniel Levy está disponível para gastar.
Nao refere um dos maiores problemas do NES ao leme do clube, do qual sou adepto (filho de Pais Portugueses, nascido e a viver em Londres): o futebol defensivo e ultra-letárgico apresentado. As estatísticas de número de remates, ataques, posse de bola, etc. metem a equipa no lugar de descida - é só ver o artigo publicado pela Sky News ontem à noite. Essa foi a pior parte, porque em termos de mercado de transferências, tirando a decisão errada de não vender o Kane, o Levy abriu os cordões à bolsa e tomou nos decisões.
Conte é um passo em frente e se, de facto, em termos de títulos não estamos ao nível dos acima referidos, a nível de infraestrutura e massa adepta, somos. E temos um dono bilionário.Falta o passo final, que é investir quando perto do topo - erro crasso ao não fazê-lo aquando da época da final da Champions e não ter dado ao Pochettino a renovação e investimento necessário.
Conte não assinaria sem garantias do género e agora temos Paratici em cena. Portanto temos mais hipóteses de a história não se voltar a repetir, o que no caso do Tottenham, é uma boa notícia
Penso que NES sempre foi uma segunda escolha,uma alternativa de recurso e bastou apenas uma maré de maus resultados para ser posto a andar.
Não tinha a confiança de Paratici nem de Levy.
Em relação a Conte,parece-me uma opção claramente melhor qualitativamente mas um treinador mais difícil de lidar,é um treinador que precisa de ter grande controlo das ações da sua equipa no mercado.
Não sei como será a relação entre ele e Levy,mas antevejo alguma tensão entre eles no futuro.