As quatro frentes no mercado do FC Porto
A equipa dirigente liderada por Pinto da Costa recapitalizar financeiramente, renovar com algumas estrelas, atrair reforços reais e definir uma estratégia para os miúdos. Não está a ser fácil.
Mesmo que o segredo para um bom sorteio esteja sempre nos potes 3 e 4, a confirmação de que estará entre os cabeças de série da Liga dos Campeões, obtida ontem, com a passagem do Bayern à final da Luz, foi uma pequena alegria num defeso que o FC Porto tem de gerir com eficácia total e estratégias camaleónicas e adaptativas. O mercado nunca fica fácil quando o dinheiro não abunda e no Dragão há pelo menos quatro frentes de batalha a exigirem o máximo da equipa dirigente liderada por Pinto da Costa: a necessidade de recapitalizar financeiramente com vendas e mais-valias, a busca de reforços reais, que vão além de cumprir a mais baixo custo as funções desempenhadas pelos jogadores entretanto transferidos, as renovações com alguns dos jogadores mais importantes do plantel campeão nacional e a estratégia em torno dos jovens campeões europeus de sub19. No meio de todas elas, não é impossível que Sérgio Conceição venha a dispor de uma equipa superior à que assegurou a conquista da Liga e da Taça de Portugal. Mas os processos vão certamente prolongar-se.
O problema é que neste momento é impossível estabelecer prioridades. Em condições mais normais, o primeiro passo seria a definição estratégica de uma política desportiva coerente, para que todos os outros se lhe seguissem. Começava-se por aqui: qual é a ideia do FC Porto para os talentosos miúdos que tem a crescer no plantel? É construir a equipa com base neles? Então é recusar quaisquer propostas para os levar e deixá-los a fazer o percurso ascensional que inevitavelmente os levará à fama. Ou, como parecem prenunciar a contratação de Carraça ou o interesse em Toni Martínez, é transferir já alguns (Tomás Esteves? Fábio Silva?), de forma a capitalizar financeiramente sem perder titulares habituais? Nesse caso é fazer saber que eles estão colocados numa espécie de hasta pública, para motivar o surgimento de interessados. Esta deveria ser a questão primordial – mas não é. E não é porque pelo meio se atravessa a capacidade do FC Porto para renovar contrato com alguns dos mais importantes elementos da equipa campeã nacional ou para transferir um par deles por valores elevados que desapertasse o nó da gravata do gestor financeiro. Porque este é um mercado especial, um mercado em que os maiores tubarões parecem ter adotado uma dieta vegetariana e não virão aí com arcas cheias de dinheiro ao nível que justificariam jogadores como Corona ou Danilo. E se estes ainda têm dois anos de contrato a cumprir, muito menos isso acontecerá com jogadores que ainda não renovaram e poderão sair a custo zero daqui por um ano, como Alex Telles, Sérgio Oliveira, Otávio ou Marega.
Idealmente, o FC Porto completaria desde já um grande negócio com Danilo – que ainda por cima não contou assim tanto para Conceição na temporada que agora findou – e outro com Alex Telles – que, entre os que terminam contrato, é o mais suscetível de entrar num plantel de topo do futebol europeu – fazendo tudo para renovar atempadamente com Corona e evitar estar nesta mesma situação daqui por um ano, quando o mexicano entrar na última época de contrato. Além disso, libertaria na folha salarial o custo de Aboubakar e transferiria Soares por um valor ainda assim superior ao que terá de pagar por Taremi – e o brasileiro, tal como o camaronês, também só tem mais um ano de contrato. Restariam, por resolver, os casos de Sérgio Oliveira, Otávio e Marega, todos a entrarem também no último ano de contrato. Serão seguramente renovações bicudas, mas não tão improváveis como a de Alex Telles ou a de Corona, por exemplo, pois já não se trata de jogadores tão facilmente colocáveis no mercado de topo do futebol europeu. Por serem possíveis é que convém tratar delas com celeridade, de forma a evitar a repetição de casos como os de Herrera e Brahimi, que foram vendo a renovação adiada até acabarem por sair a custo zero, no final da época passada.
Restam, portanto, os miúdos. Tomás Esteves e Vitinha já renovaram até 2024, Fábio Silva estendeu o vínculo até 2025. Estão os três na carteira de Jorge Mendes. Faltam Diogo Costa, Fábio Vieira e João Mário (todos com contrato até 2022), Diogo Leite, Diogo Queirós e Romário Baró (que têm mais três anos de ligação). Em termos ideais, o FC Porto do futuro começaria por eles. A questão é a de perceber se a realidade permite que isso venha a acontecer.