Amorim e os construtores
Rúben Amorim deu nova resposta aos que o acusam de ter uma ideia cristalizada com uma mudança no Sporting. A vitória no Estoril começou na utilização simultânea de dois centrais fortes na construção.

O Sporting ganhou com relativo à vontade ao Estoril-Praia, por 2-0, na Amoreira, dando mais um safanão na crise e na depressão que parece ter-se instalado na equipa e sobretudo nos seus adeptos. Os leões continuam longe do topo, a oito pontos do Benfica, mas parecem ter reencontrado as boas sensações, muito devido ao regresso de Pedro Gonçalves ao ataque e a uma linha de trás mais capaz de construir desde a base. Rúben Amorim abdicou de Gonçalo Inácio e Neto para jogar com Saint Juste e Matheus Reis a ladearem Coates, passando assim a dispor de dois defesas-centrais fortes a subir com bola e a causar desequilíbrios num Estoril que na primeira parte cometeu o erro de não pressionar a saída de bola leonina e, na segunda, quando quis fazê-lo, o fez sempre com pouca gente, temendo que a perda de um momento de um-para-um pudesse encerrar a partida de vez. Assim sendo, os golos de Saint Juste e Edwards, obtidos nos primeiros 21 minutos da partida, chegaram perfeitamente para o Sporting gerir o resultado até final.
Uma das críticas que mais vezes se faz a Rúben Amorim é a de que a equipa joga sempre da mesma forma. Não é verdade. Ontem, contra o Estoril, a alteração de várias unidades no seu habitual 3x4x3 permitiu que o Sporting mostrasse uma face muito diferente – e a mudança não se ficou por aí, como veremos mais à frente. Na frente de ataque móvel, Pedro Gonçalves nem usou a boa relação que mantém com o golo – não marcou... – mas mostrou a importância de ter naquela linha alguém capaz de temporizar ao detalhe o ataque à profundidade, em vez de ter só jogadores interessados em receber no pé e em apoio. A desmarcação que fez para o segundo golo, que depois deu a Edwards, foi decisiva, porque foi a partir dali que o Sporting ganhou tranquilidade no placard, após um início com alguns erros individuais em zonas mais recuadas. Atrás, em vez de usar uma linha que preferencialmente não complica mas entrega a bola a quem sabe – contra o GD Chaves tinham alinhado Neto, Coates e Inácio – Amorim optou por recorrer a dois centrais com enorme capacidade de subir com a bola nos pés, atrair e fixar a marcação antes de a darem já com os desequilíbrios causados. Saint Juste marcou o primeiro golo, em lance de bola parada, mas foi importantíssimo, tal como Matheus Reis, na forma como empurrou a equipa para a frente e libertou gente na linha de meio-campo, que Nélson Veríssimo queria poder manietar com N’Diaye e Rosier.