A vantagem competitiva do Sporting
Até fim da época, o Sporting sabe o que aí vem: são 20 jogos da Liga. Os rivais farão mais três e poderão ter de fazer mais cinco nas próximas cinco semanas.
A vitória na Taça da Liga foi um sinal importante de que a equipa do Sporting está bem viva, acredita no que está a fazer, no chamado “processo”, e tenciona levar a época a bom porto. O futebol dos leões já foi mais brilhante, é verdade, mas não deixa de ser relevante que este título de “campeão de inverno” tenha chegado contra adversários diretos na corrida ao título e com resultados conseguidos nos 90 minutos, por oposição aos desempates por grandes penalidades de 2018 e 2019. A juventude do plantel terá facilitado a Rúben Amorim a tarefa de construção de balneário, mas visto de fora este parece tão saudável como um balneário pode ser – e as taças, nisso, também ajudam. Até por isso, por vir na sequência da eliminação da Taça de Portugal, esta Final Four vencedora parece ter surgido de encomenda, porque resolve o tema da crença antes da semana mais importante no passado recente do clube: a que inclui os jogos com o Boavista, amanhã, e o Benfica, a 1 de Fevereiro. Sobretudo porque estes chegam numa altura em que os rivais voltarão entrar numa frequência absurda de jogos que pode ser uma vantagem competitiva para os leões.
As circunstâncias em campo na Final Four de Leiria não foram brilhantes – longe disso. Contra o FC Porto, o Sporting dividiu o jogo durante boa parte do tempo, é verdade, mas permitiu que o adversário se mostrasse marginalmente mais competente até ao momento em que dois golpes de génio (no segundo caso com alguma fortuna à mistura) resolveram o assunto e viraram o placar. Ante o SC Braga, os leões até foram melhores na adaptação a um relvado difícil, justificaram a vantagem ao intervalo, mas deixaram depois o opositor tomar conta das operações na segunda parte e tiveram de sofrer até um final pleno de ansiedade, onde se mostraram solidários mas também algo descontrolados. “As finais não se jogam: ganham-se”, diz o aforismo futebolístico, e nisso o Sporting foi exemplar, podendo ter encontrado nestes jogos a dose de confiança que após a eliminação da Taça de Portugal podia começar a faltar-lhe. Sendo que já aí vêm mais duas. O Boavista é último, mas já era penúltimo, em Novembro, quando fez cair o então líder Benfica, no Bessa, com um ruidoso 3-0, abrindo uma crise da qual Jesus ainda não conseguiu sair. E o Benfica é a “nemesis” que este Sporting ainda não derrubou, à qual ganhou apenas uma das últimas dez partidas.
Dizia Carlos Carvalhal antes da final de Leiria que quando se joga de três em três dias surgem deslizes. Falou até de grandes equipas internacionais, que também perderam jogos de forma algo surpreendente nos últimos dias. E, não fosse ele mestre com obra publicada na área da recuperação, não só foi pertinente como lançou uma luz sobre os tempos que aí vêm. Até final da época, o Sporting sabe bem o que o espera: tem 20 jogos da Liga e, na medida do possível, pode gerir não só o calendário como até as partidas que terá de fazer com menos de uma semana de recuperação e treino, porque até final da época ainda há três jornadas marcadas para quartas-feiras. O FC Porto, o Benfica e o SC Braga terão, além das 20 jornadas da Liga, pelo menos mais uma – eventualmente mais quatro – na Taça de Portugal e pelo menos mais duas – eventualmente mais, também… – na Liga Europa. Sendo que essas três partidas-extra são para jogar até final de Fevereiro e que, se tiverem sucesso já no final desta semana, nos quartos-de-final da Taça de Portugal, ainda terão os dois jogos das meias-finais até à primeira quarta-feira de Março. Poderão ser mais cinco jogos em cinco semanas. Na visão de Carvalhal serão, portanto, vários convites ao deslize, mas também à superação permanente.
O desafio para o Sporting será encontrar neste aspeto a vantagem competitiva que lhe falta, ao entrar no que lhe falta jogar da primeira volta da Liga – Boavista, Benfica e Marítimo – com limitações tão reconhecidas. Tem o plantel mais curto dos quatro, onde as opções são mais difíceis de encontrar. Tem uma série de jogadores à beira da suspensão por quinto amarelo – e também isso terá de gerir com inteligência e frieza. A dificuldade é misturar tudo isso com a forma empática que tem marcado a gestão que Rúben Amorim tem feito de um grupo que, por ser jovem, é irrequieto. A frase “onde vai um vão todos”, um momento de inspiração do treinador para simbolizar a união do balneário que lidera, também tem tido a sua relevância por demonstrar o que parece ser uma espécie de auto-castração em que a equipa incorre quando se vê privada de um: é como se os outros também não fossem. Foi isso que se viu no Funchal: o técnico privou alguns de ir, deixando-os no banco para os poupar, e os que foram parecia que tinham também ficado de fora. Mais do que pelas ausências por castigo (como a de Pedro Gonçalves, agora, pelo menos no Bessa), lesão ou infeção, este Sporting corre risco de ser derrubado pela gestão. Porque as baixas impostas até podem gerar união e revolta, enquanto que as nascidas da gestão correm o risco de espalhar no grupo uma sensação de facilidade que é, como a acumulação de jogos, meio caminho andado para o deslize.