A Taça de Portugal e a rotatividade
Os candidatos ao título vão jogar na Taça com equipas do terceiro escalão. Devem rodar os onzes ou manter as apostas? E por que razões? É que há formas melhores e piores de exercer a rotatividade.
Vem aí a Taça e os quatro candidatos ao título da Liga terão pela frente adversários do terceiro escalão do futebol nacional, o Campeonato de Portugal. O FC Porto visita o Fabril, 11º da Série G, o Benfica vai jogar com o USC Paredes, terceiro da Série C, o SC Braga enfrenta o Trofense, líder da mesma Série C, e no caminho do Sporting atravessa-se o Sacavenense, quinto da Série F. Todos são amplamente favoritos, como é natural, mas os apertos do calendário que aí vem e a situação em que cada um chega a este fim-de-semana de retoma pós-seleções pode ditar formas diferentes de lidar com os jogos. Esta jornada de estreia na Taça costuma ser sinónimo de rotação e este ano não vai ser exceção. A não ser, eventualmente, para o Sporting, a quem até pode convir manter-se focado. A questão aqui é a de se entender as razões pelas quais os clubes rodam.
No ano passado, esta terceira eliminatória da Taça de Portugal jogou-se em meados de Outubro e, tal como agora, imediatamente após uma pausa para jogos das seleções e antes de uma jornada europeia. O FC Porto de Sérgio Conceição bateu o SC Coimbrões por 5-0, mantendo apenas dois titulares (Manafá e Otávio) da partida anterior, uma derrota com o Feyenoord para a Liga Europa. E no jogo seguinte, um empate caseiro com o Rangers, voltou a usar apenas dois titulares do jogo da Taça (Otávio e Luís Díaz), repetindo boa parte do onze que usara 21 dias antes, em Roterdão. No Benfica, Bruno Lage usou de início nos 4-0 ao CD Cova da Piedade cinco elementos que tinham sido titulares na derrota em São Petersburgo, frente ao Zenit, na Liga dos Campeões – Tomás Tavares, Jardel, Grimaldo, Gabriel e Pizzi. E depois, na vitória em casa com o Olympique Lyon, voltou a chamar de início três deles: Tomás Tavares, Grimaldo e Gabriel. No Sporting, a situação foi diferente, porque Jorge Silas chegara ao clube há um par de semanas e estava ainda a começar a conhecer os jogadores. Repetiu em Alverca três titulares da vitória frente ao LASK (Miguel Luís, Neto e Luís Phellype) e, apesar da derrota com a equipa do terceiro escalão, segurou quatro elementos desse onze para o jogo seguinte, uma vitória caseira com o Rosenborg (Rosier, Doumbia, Vietto e Luís Phellype). E mais diferente ainda foi o caso do SC Braga, que em virtude de não ter gente nas seleções, se manteve em atividade durante a pausa, com dois jogos para a Taça da Liga entre a ronda europeia e a Taça de Portugal.
O que isto pretende provar é que não há uma fórmula boa para atacar este problema. Ou melhor: estes problemas, porque são dois: a concentração de demasiados jogos num curto período de tempo e a criação de pausas competitivas demasiado largas a meio da época. Se o primeiro problema pode implicar a exaustão dos jogadores, o segundo pode conduzir à sua desmobilização, à perda de ritmos e rotinas. Daí que seja aceitável que um treinador, face a um adversário de categoria inferior, pense em poupar os jogadores mais castigados, até por estar a prever mais três semanas de grande intensidade – FC Porto, Benfica e SC Braga vão ter seis jogos nos 18/19 dias que se seguem – mas que também se admita que, perante a grande importância dos jogos que vão chegar aí lá para o final da semana que vem, o mesmo treinador pense em devolver aos titulares o ritmo e as rotinas que lhes farão falta nessa altura – e isso é particularmente verdade no caso do Sporting, que no mesmo período só jogará três vezes.
A resposta a estes problemas está na natureza das razões que devem levar os clubes a rodar o plantel. Que são as duas que identifiquei acima. Por um lado, manter os jogadores abaixo do nível da exaustão competitiva. Por outro, manter o máximo de elementos focados e com ritmo para responder em alturas de necessidade. O erro, aqui, é muito simples de explicar: é estratificar demasiado. É achar-se que há jogos que são para uns e jogos que são para outros. A rotação, em termos ideais, não se faz nestes jogos: vai-se fazendo em todos, trocando um jogador hoje, outro amanhã, outro no dia seguinte. José Mourinho fazia-o bem, até pelo foco que colocava na libertação mental da competição, no FC Porto campeão europeu: de vez em quando, mandava um par de titulares de folga ao fim-de-semana e proibia-os sequer de pensar em futebol. Claro que a diferença de categoria entre os nossos maiores clubes e os adversários que vão enfrentar na Taça de Portugal é enorme e permite que alguns desvarios passem sem punição, mas é tão arriscado entrar num jogo destes com um onze de gente pouco focada e ainda sem ritmo como o é voltar a chamar os mesmos de sempre e depois ver que rebentaram quando ainda há uns meses de época por jogar. Ou até poupar agora, ganhar aos amadores que lhes aparecem pela frente, mas depois voltar a chamar os habituais no jogo seguinte e perceber que eles demoram a arrancar, porque não competem há três semanas.