À sombra da águia
A águia albanesa abriu as asas e conquistou mais um título. Após Kosovo e Macedónia, também o Montenegro consagrou uma equipa daquela minoria étnica, o Decic. Os radicais de Podgorica não gostaram.
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A justiça do título de campeão do Montenegro, conquistado na penúltima jornada pelo Decic, pequeno clube da cidade fronteiriça de Tuzi, não pode ser posta em causa. Mesmo privado de jogar em casa durante toda a época, por causa das obras de renovação no seu Tusko Polje, o clube bandeira da minoria albanesa acabou com seis pontos de avanço para o segundo, os “marinheiros” do Mornar, e nove para o campeão cessante, o sempre favorito Buducnost, que chegou a meio da época na frente mas se deixou depois enredar numa série de problemas internos à medida que perdia o contacto com o topo. O clímax aconteceu no quarto e último jogo ante o futuro campeão, quando os “Varvari” [Bárbaros], a claque do Buducnost, forçaram a interrupção da partida por 55 minutos através do lançamento de tochas e petardos para o relvado e de cânticos racistas contra os albaneses. Foi já sem esses 150 desordeiros no estádio de Donja Gorica, que naquela tarde servia de casa emprestada ao Decic, que o desafio chegou ao fim com um empate a uma bola que mantinha ambas as equipas na corrida, a sete jornadas do fim. Mas a atuação da federação, que multou os dois clubes na sequência dos incidentes, levou o vice-primeiro ministro Nik Gjeloshaj, líder da Alternativa Albanesa, a ameaçar com uma queixa à UEFA e à FIFA, visando em última análise o afastamento da Federação Montenegrina das instâncias internacionais. “A narrativa dos anos 90 não pode ter lugar num Montenegro moderno e europeu”, apoiou-o Nikola Camaj, deputado eleito em representação do Forum Albanês e membro do Comité para a Integração Europeia.