A roleta dos treinadores
Imaginem uma roleta gigante com os clubes todos que contam e as bolinhas com os nomes dos treinadores a andarem às voltas, às voltas, até encaixarem. Que lugares estão vagos e quem ainda não acalmou?
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A meio de Maio, como sempre, a roleta dos treinadores está a perder força e as bolas caíram já quase todas nas casas em que vão estar em Julho, no início da próxima época. As de Rúben Amorim, Roger Schmidt e Sérgio Conceição são das que ainda não foram vencidas pela inércia, mas a verdade é que já não lhes sobra muito encaixe para deterem o movimento e, com eles, às voltas, estão ainda outros portugueses, Paulo Fonseca e José Mourinho à cabeça. Como em alguns casos dos que ainda não pararam se admite até uma troca imediata e que não se fale mais nisso – Tuchel e Ten Hag, por exemplo... – e noutros que estão quietinhos começa já a falar-se em movimentos a longo prazo – um duelo marcado entre Xabi Alonso e Mikel Arteta na Liga espanhola mas só para daqui a um par de anos – as últimas esperanças de muito boa gente residem no Campeonato da Europa. É que este é ano de fase final e do que vai passar-se com algumas seleções ainda ninguém tem a mais pequena pista. Não é o caso da nossa, no entanto: Roberto Martínez vai continuar e foi por ter percebido que calculou mal o tempo de salto, ou por outra, que foi empurrado da AS Roma na altura errada, que José Mourinho veio esta semana dizer que pode ter cometido “um erro” quando rejeitou treinar Portugal após o Mundial de 2022.
Mourinho está naquele momento de carreira em que parar pode ser morrer. Tem 61 anos e um passado enorme, mas sabe que quem não aparece esquece. Desde que foi demitido da AS Roma já foi falado para o Chelsea – que ainda não se sabe se vai mudar – ou para o Bayern – que ainda não tem treinador – mas está longe de ser favorito em qualquer das corridas. É por isso que a partir de certa altura passou a admitir-se (não pelo próprio, ainda assim) que a via de regresso ao ativo passasse por um clube português, seja porque no Benfica se percebe um potencial financeiro capaz de lhe dar uma equipa à imagem dele ou porque no FC Porto ele foi uma espécie de guru para o novo presidente, André Villas-Boas. Para isso acontecer, no entanto, os dois clubes teriam de resolver as suas vidas com os treinadores atuais. Na Luz, não é claro ainda o que Rui Costa fará com Roger Schmidt, que tem mais dois anos de contrato e, tanto quanto transpirou, com salário progressivo: quatro milhões de euros em 2023/24, cinco em 2024/25 e seis em 2025/26. Sem contar aqui o custo da restante equipa técnica, despedi-lo agora implicaria pagar-lhe 11 milhões limpos, mais ou menos 22 milhões brutos. Ou obter o assentimento dele para ir recebendo apenas até arranjar um emprego – o que, como vamos ver mais à frente, não estará fácil, pelo menos no futebol europeu onde se pagam esse tipo de verbas. Schmidt vai no fundo do pelotão dos pretendentes a um lugar no Bayern, mas de resto só pode cair nas casinhas de clubes neerlandeses ou austríacos, onde esses são valores totalmente proibitivos. O que lhe deixa como alternativa a Arábia Saudita. E quererá ele essa reforma dourada, que implica a saída do futebol que verdadeiramente conta – a Champions – aos 57 anos?