A revolta de Nápoles
Com a mão que Spalletti estendeu a Allegri a comandar a equipa, o SSC Nápoles segue imparável no topo da Série A e parece em condições de voltar a operar um milagre que, até hoje, só Maradona fez.
O jogo acabou e Luciano Spalletti não caberia em si de felicidade. A caminho dos balneários, transformou-se num misto de treinador com saltimbanco e mestre de cerimónias. Começou a caminhar de lado e inclinou um pouco o corpo, enquanto prendia o sorriso como um mimo e mantinha o braço direito estendido e a mão aberta, na direção de Massimiliano Allegri. O treinador da Juventus tentou ignorar a performance do anfitrião, mas a dada altura entendeu que teria mesmo de alinhar e de deitar para trás das costas a frustração de uma goleada que o chamava de volta a uma realidade que a série mais recente de resultados parecia querer mascarar. No momento de concessão, em que Allegri e Spalletti finalmente convergiram e apertaram as mãos, se viu que os napolitanos têm de ser levados a sério. Os dez pontos que têm agora de avanço, à condição, sobre o Milan e os 13 que levam à frente do Inter mostram que, 33 anos depois, no sopé do Vesúvio volta a haver uma equipa capaz de reivindicar o “scudetto” ao Norte industrial e financeiro.
Mazzari, Sarri e Ancelotti discutiram-no, mas não ganharam o campeonato italiano, que foge a Nápoles desde que a cidade consumiu Maradona, o mascou e desistiu dele, deixando-o iniciar a rota de fuga que se seguiu à autodestruição. O último “scudetto” napolitano já data de 1990 e foi celebrado semanas antes da traição a Diego, na meia-final do Mundial, quando o povo napolitano apoiou a Itália que o desprezava em vez da Argentina, onde luzia a mega-estrela que o tornara futebolisticamente relevante. É que o primeiro tinha sido festejado três anos antes, em 1987, ao terceiro campeonato que ali foi jogado pelo craque que entretanto, com o passar da história, passou a dar o nome ao eruptivo San Paolo. O apogeu futebolístico do SSC Nápoles coincidiu com a passagem de Maradona pela caótica cidade do sul de Itália. “Ter conseguido o primeiro título com o Nápoles foi, para mim, uma vitória incomparável, diferente de qualquer outra, até do título mundial de 1986”, contou na sua autobiografia o argentino que, com os seus colegas, viu no primeiro jogo que fez na Série A, em Verona, uma ofensiva tarja com a frase “Bem-vindos a Itália”. Esse era, juntamente com repetidos cânticos insultuosos e discriminatórios – “Lavem-se!” era o mais habitual –, um dos muitos mimos com que eram presenteados os napolitanos nas idas ao Norte.
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