A primeira revolução
Houve duas revoluções na vida dos futebolistas portugueses. A primeira deu-lhes liberdade, proteção social, a dignidade de uma carreira profissional e teve a génese há 50 anos, no 25 de Abril de 1974.
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O Mundo mudou para os futebolistas portugueses com a “revolução dos cravos”. Foi no 25 de Abril de 1974 que ganhou força a onda que já tinha começado a erguer-se em processos como o da criação do sindicato ou uma polémica renovação de contrato de António Simões com o Benfica, negociada através de um então jovem advogado chamado Jorge Sampaio, que depois veio a ser Presidente da República mas antes disso foi o rosto legal da luta desta classe. Mas foi só depois de Abril que os jogadores acabaram com o sistema de quase escravatura que era a Lei da Opção, a legislação que os amarrava ao mesmo clube por toda a vida, desde que este assim quisesse, mesmo que optasse por lhes baixar o salário. Passaram 50 anos e os jogadores já ganharam mais uma série de batalhas, a mais significativa das quais a da livre circulação que se seguiu ao acórdão Bosman, no final da década de 90. Mas há uma série de outras em linha, a começar pela sobrecarga dos calendários competitivos que lhes ameaça a saúde em nome da crescente necessidade de alimentar o negócio.
Um dos muitos slogans que nos encheram os dias nos anos que se seguiram à revolução de 1974 dizia que “as conquistas de Abril são irreversíveis”. Na opinião de Joaquim Evangelista, o presidente atual do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, não são. “Os direitos e as liberdades conquistados durante estes 50 anos não estão consolidados”, diz Evangelista, que ainda esta semana esteve em Paris, em mais uma reunião da FIFPro, a união internacional dos sindicatos de todo o Mundo, para tratar dos desafios que se apresentam como mais urgentes nos tempos que aí vêm. À cabeça de todos, a sobrecarga competitiva imposta pelos calendários. Mas a luta não se fica por aí. “Há a integridade das competições, o ‘match-fixing’, o tráfico de jogadores, o racismo, a violência, a igualdade de género, o combate ao assédio”, elenca Evangelista, que não está sequer plenamente convencido com aquilo que Toni, que era dirigente do sindicato por alturas do 25 de Abril, vê como a maior das conquistas do período da revolução que hoje completa 50 anos. “Foi a liberdade”, vinca o antigo capitão e treinador do Benfica. “Ainda há muito controlo dos clubes acerca, por exemplo, do direito de liberdade de expressão”, contrapõe o sindicalista.