A guerra sem lágrimas
Na janela de Março, as 30 seleções mais bem posicionadas no ranking da FIFA usaram 226 jogadores com dupla nacionalidade. O Mundo mudou e há critérios bastante diversos na formação das equipas.
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Os jogos de seleções sempre evocaram a letra do “Games Without Frontiers”, a “guerra sem lágrimas”, como descrita por Peter Gabriel numa canção da década de 80. Porque nas seleções havia zero interferência do mercado e do dinheiro e os mais ricos não podiam – ou tinham deixado de poder, mas já lá vamos... – comprar os mais pobres. Isso mantinha acima de todos os valores o amor à camisola, ou neste caso à bandeira, ao hino e à nação. O mundo, no entanto, mudou. Globalizou-se. Nos jogos das datas FIFA deste mês de Março, as 30 seleções mais bem colocadas no ranking mundial utilizaram um total de 226 jogadores com dupla nacionalidade. A média anda ali entre os sete e os oito por cada equipa, ainda que haja quem tenha chegado a 15 (França e Uruguai). Mas ninguém ficou fora desta tendência, por razões que vão da assimilação dos filhos de imigrantes comuns ou até dos rebentos de jogadores que fizeram carreira fora do seu país, já formados na nação de acolhimento, a um aproveitamento oportunista de talentos que nações poderosas não chegaram a convocar ou até de filhos de gente que emigrou em busca de vida melhor mas de tal forma ficou restrita a guetos que agora vê os descendentes escolherem a seleção de um país onde nunca viveram. E não deixa de ser curioso que, sendo a ultra-direita a mais feroz defensora do nacionalismo e contrária à miscigenação das equipas nacionais, o fenómeno tenha começado há uns 100 anos, na Itália fascista e por obra e graça de um decreto de Benito Mussolini.