A famosa sorte de Fernando Santos - Parte II
O eventual terceiro lugar só não qualifica Portugal se perder por mais de dois golos de diferença com a França. E tira-nos papões do caminho.
Lembram-se de 2016? Campeonato da Europa, primeira fase dececionante de Portugal e, após empates com a Islândia, a Áustria e a Hungria, apuramento milagroso no grupo como um dos melhores terceiros? Mas também a felicidade de ser colocado no lado do quadro das eliminatórias onde não estavam os maiores papões (Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Espanha…), que se eliminaram uns aos outros antes de os franceses nos enfrentarem na final. Na altura houve quem falasse da famosa sorte de Fernando Santos, fenómeno que o atual selecionador nacional cultiva desde os jogos de cartas como jovem defesa do Estoril. Pois bem: o que os resultados de ontem dizem é que a coisa está a repetir-se. Por inteiro. Se a equipa nacional acabar o Grupo F em terceiro lugar – e desde que não perca por mais de dois golos com a França – vai quase de certeza jogar com a Holanda em Budapeste, no domingo, assegurando desde já que até uma eventual final estaria livre da Itália, da Bélgica e do primeiro classificado do nosso grupo.
Muita gente me perguntou ontem como funciona o emparelhamento dos terceiros colocados nos grupos nos oitavos-de-final, uma vez que o que está no calendário é uma sucessão quase ininteligível de letras. Pois bem: é preciso fazer contas – e essas não tive capacidade para as fazer enquanto comentava o Bélgica-Finlândia, ontem, na RTP1. Foi esse jogo que, além de deixar a França desde já apurada, tranquilizou os corações portugueses, uma vez que garantiu que, desde que os portugueses sejam mesmo terceiros do grupo, dificilmente deixarão de se apurar também. Ora cá vai a explicação. Este Europeu, tal como o anterior, apura os quatro melhores terceiros colocados dos seis grupos para a fase seguinte. Portugal só não está ainda apurado porque – ao contrário da França – não só ainda não garantiu o terceiro lugar como pior cenário, como ainda pode piorar muito as contas. Neste momento, os terceiros dos Grupos A, B e C já são conhecidos: a Suíça (Grupo A), com quatro pontos, está apurada; a Ucrânia, com três pontos e um golo negativo (4-5) tem esperança, mas ainda precisa que surja mais um terceiro abaixo dela na hierarquia; a Finlândia, também com três pontos mas dois golos negativos (1-3) está mais apertada, mas ainda não perdeu totalmente a esperança, pois ainda há três grupos em jogo.
O que isto significa para as contas de Portugal é simples. Mas antes de o revelar tenho de explicar então como funciona o emparelhamento dos terceiros classificados nos oitavos-de-final. Há 15 emparelhamentos possíveis, consoante os quatro apurados, pois cada um pode seguir em frente com outros três. Se olharem bem para as letras que surgem no calendário, todas essas 15 hipóteses estão cobertas, de forma a que, consoante a conjugação de quatro apurados, só uma preenche as quatro vagas. Assim sendo, já é possível estabelecer quase tudo no futuro próximo de Portugal na competição. Se a seleção nacional ganhar à França e, ao mesmo tempo, a Alemanha não ganhar à Hungria em Munique (pouco provável, vamos lá…) será primeira no seu grupo e jogará na segunda-feira em Bucareste com o terceiro dos grupos A, B ou C – e aqui já se sabe que será a Suíça ou a Ucrânia. Nos quartos-de-final, depois, a coisa poderia apertar, uma vez que aí (se lá chegássemos) jogaríamos com o vencedor do jogo entre o segundo do Grupo D (eventualmente Inglaterra ou Rep. Checa) e o segundo do Grupo E (que até pode ser a Espanha). Mas e se Portugal vencer a França e, ao mesmo tempo, a Alemanha também ganhar em casa à Hungria, o que sucede? Aí a seleção nacional será segunda do Grupo F e defrontará em Londres, na terça-feira, o vencedor do Grupo D, que pode bem ser a Inglaterra (hoje se saberá).
Por fim, o que acontece se Portugal empatar? Ou se perder com a França. Bom, são cenários diferentes, mas é provável que ambos levem a equipa nacional ao terceiro lugar e ao tal jogo com a Holanda em Budapeste, já no domingo. Em caso de empate, Portugal faria quatro pontos e seria segundo caso a Hungria ganhe à Alemanha em Munique (seria o tal jogo em Londres…) ou na mesma terceiro (e qualificado) se os alemães ganharem ou empatarem (caso em que fica em Budapeste para jogar com a Holanda). Já em caso de derrota, o cenário pode complicar-se: é que se Portugal perder com a França e ao mesmo tempo a Hungria ganhar à Alemanha, a equipa nacional ficaria fora de prova, como última do grupo. OK, já definimos esse cenário como altamente improvável, portanto fixemo-nos no outro. Aí, seria igual se os alemães ganhavam ou empatavam: para já (e atenção que os jogos de hoje podem tornar este cenário ainda menos exigente), perdendo com a França, Portugal seria sempre um dos melhores terceiros a não ser que perdesse por mais de dois golos de diferença. Para já, os portugueses têm três pontos e um golo positivo (5-4). Se perderem por dois golos (o 0-2 leva-nos para um 5-6 de score final), ficarão sempre melhor do que Ucrânia (três pontos e 4-5) e a Finlândia (três pontos e 1-3).
Um eventual empate entre Escócia e Croácia, hoje, deixará o terceiro do Grupo D com dois pontos apenas e, além de apurar a Ucrânia, permitiria até que Portugal perdesse por três amanhã. Mas já nem vamos contar com isso. Que, depois dos 3-0 à Hungria, dificilmente Portugal deixaria de ser um dos melhores terceiros, já se sabia há algum tempo e até já o tinha escrito aqui. O que ainda não se sabia eram as seleções que iam ficar deste e do outro lado do quadro. Agora já se sabe que, nesse cenário, os portugueses defrontarão quase de certeza a Holanda em Budapeste e, a seguir, o vencedor do Gales-Dinamarca em Baku (a única hipótese de isso não acontecer era o terceiro do Grupo E fazer pior do que a Ucrânia e que o terceiro do Grupo D, para o que seria necessário que não haja empate no Espanha-Eslováquia nem no Croácia-Escócia e que a Suécia não perca com a Polónia). Se ganharem aos dois, na meia-final terão como adversário uma equipa saída do lote formado pelo vencedor do Grupo D (Inglaterra? Rep. Checa?, hoje se saberá…), pelo segundo do Grupo F (Alemanha? França?), pelo vencedor do ainda muito embrulhado Grupo E e por um dos terceiros dos grupos A, B, C ou D. Do outro lado, a coisa está muito mais complicada.