A falta que faz a classe média
O futebol português está a viver uma época histórica, mas ao mesmo tempo corre o risco de perder a terceira vaga na Champions a partir de 2024. Razão para voltar a falar da distribuição da receita.
A qualificação de Sporting e Benfica para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões deixa Portugal apenas atrás de Inglaterra (quatro equipas) e Espanha (que tem três), ao lado de França e Itália e à frente, por exemplo, da Alemanha (uma) no que a representatividade na prova diz respeito. A presença de dois emblemas portugueses nesta fase não é inédita, já se verificara em 2008/09 e em 2016/17, como o não são os 22 pontos somados por Sporting (nove), Benfica (oito) e FC Porto (cinco): em 2014/15 fizemos 26, em 2012/13 acabámos com 24 e em 2018/19 com 23, sendo que em todos os casos apurámos apenas um emblema para os últimos 16. Este será o 11º ano consecutivo em que Portugal mete pelo menos uma equipa nos oitavos-de-final da Champions, proeza que só as cinco grandes Ligas conseguiram. E, no entanto, estamos em sério risco de perder a terceira vaga na Liga dos Campeões já a partir de 2024. Porquê? Porque nos falta a classe média, porque além dos três grandes e do SC Braga não temos clubes capazes de pontuar nas provas de menor importância mas de quase igual impacto em termos de ranking.
Quem nos ameaça são os Países Baixos. A sua primeira reação é dizer: “normal, o Ajax está a fazer uma grande Liga dos Campeões e fez sozinho quase tantos pontos (18) como os nossos três clubes na Champions”. Isso também conta, naturalmente. Mas não explica tudo, nem de perto. Os Países Baixos inscreveram cinco equipas nas provas europeias deste ano e ainda os têm a todos em prova. O Ajax fez o pleno na Champions, como já lhe recordei. O PSV (que começou a caminhada ser afastado da Liga dos Campeões pelo Benfica) fez oito pontos na Liga Europa e, sendo terceiro no seu grupo, segue para a Liga Conferência. Na terceira divisão do futebol europeu, há ainda mais três equipas holandesas. Duas já estão apuradas: o AZ Alkmaar (14 pontos) e o Feyenoord (14 pontos). O Vitesse fez dez pontos e está à espera da realização do Tottenham-Rennes para saber se continua – e cairá se os londrinos vencerem os franceses. Em resultado de tudo isto, os Países Baixos somaram 14,2 pontos de ranking e são mesmo os líderes desta época, à frente de Inglaterra, que tem 14,1 incrementáveis se o Tottenham ganhar o tal jogo que foi adiado.
O que conta, no entanto, para o estabelecimento das vagas, é o somatório das últimas cinco temporadas – e aí Portugal está mais ou menos seguro. Mesmo tendo esta época “histórica” valido, até ver, apenas 9,5 pontos de ranking a Portugal – sétimo lugar global, atrás das Big Five e dos Países Baixos – ainda seguimos no sexto posto, com um avanço mais ou menos confortável sobre os holandeses. São, por enquanto, 5,7 pontos de diferença, que deverão chegar para manter a posição até final da época e garantir as três vagas atuais na Champions em 2023/24 – que estas coisas definem-se com um ano de avanço, para as equipas saberem nas Ligas nacionais pelo que jogam e que vagas há antes de começarem os campeonatos. O problema é que, para definir as vagas de 2024/25, vamos deixar cair os pontos relativos à que será na altura sexta última época, juntando-lhes os de 2022/23. E nessa sexta última época, a de 2017/18, Portugal marcou 9,6 pontos de ranking contra os 2,9 dos holandeses, que nesse ano tiveram uma prestação fraquíssima. Quer isto dizer que, num ápice, enquanto o Diabo esfrega um olho, perderemos 6,7 pontos de vantagem. Mais um do que a atual almofada de conforto.
Para evitar a perda da terceira vaga na Liga dos Campeões a partir de 2024 vai ser preciso dar ao pedal já no que sobra desta época, mas sobretudo na próxima. A experiência, no entanto, mostra-nos que, mesmo que se resolva este caso, com um ano bom de uma equipa, é preciso começar a pontuar de forma mais consolidada. Que é preciso estimular a criação da tal classe média, que se torna mais importante à medida que a UEFA vai criando provas novas, como a Liga Conferência – onde nem Santa Clara nem FC Paços de Ferreira conseguiram entrar este ano. É verdade que a UEFA até tenta atenuar a evidência de que os pontos são mais fáceis de obter nestas provas do que na Champions, atribuindo bónus diferentes aos apurados em cada prova: o apuramento para os oitavos-de-final da Champions deu um total de nove pontos de bónus, igual proeza na Liga Europa vale cinco pontos e na Liga Conferência garante apenas dois. Mas ganhar seis jogos nesta espécie de terceira divisão do futebol europeu vale os mesmos 12 pontos que ganhar os seis jogos na fase de grupos da Champions. É injusto? Pode até ser. Mas é a realidade e é de acordo com ela que é preciso definir políticas.
A conclusão evidente é que enquanto os adeptos dos clubes nacionais continuarem a perder tempo e energia a discutir quem é que contribuiu mais para o ranking – e aposto que a caixa de comentários deste texto nas redes sociais vai ser disso exemplo – e não entenderem que o fundamental mesmo é criar condições para que haja mais gente a pontuar não vamos ter progresso. Uma distribuição mais igualitária de receita, por exemplo do bolo gerado pelos direitos centralizados de TV, terá os seus defeitos, como o facto de inicialmente os grandes passarem até a receber menos do que agora. E isso, dir-me-ão os que se entretiveram acima a discutir quem é que contribuiu mais e menos, “é inaceitável”. A questão é que não é. E está por provar que essa redistribuição seja má para eles. Quando voltarmos a perder a terceira vaga na Liga dos Campeões apareçam para falarmos – e não é para me dizerem que a culpa é de todos os clubes menos do vosso, que foi quem fez mais pontos.
Completamente de acordo!
Na proxima época será fundamental que as 6 equipas cheguem às fases de Grupos e ter 2 equipas na Conference League é muito importante para gerar os pontos complementares.
Olhando para a competetividade e mesmo sabendo que não tivemos sorte no sorteio (para o Paços), e que até considero que a 1a ronda da Taça da Liga no inicio de epoca ajuda à preparação/entrada em forma das nossas equipas mais cedo, será que podiamos fazer algo mais para ajudar neste ponto?
A mim tambem me parece que temos deixar as clubices de bairro e comecar a investr a serio no nosso campeonato. O nivel de amadorismo com que alguns clubes sao geridos e uk problema. E os grandes andam a decadas a esfregar as maos enquanto a nossa liga nao ganha qualidade. Com uma formacao tao boa, os clubes mais pequenos deveriam ser mais fortes. Eu concordo com os direitos televisivos partilhados como nas grandes ligas. Em relacao aos clubes, acredito que uma gestao profissional, em contraste com a de equipas como o Moreirense, que claramente e so gerido pelo presidente, e faz os esforcos minimos so para se manter. Ou o Victoria, parece que gestao nao entra no vocabulario. Acho que oa clubes tem de ser alvo de reguladores, como proposto para a premier league e EFL, para que todos percebam que isto e dinheiro. Um clube bem succedido tambem tras dinheiro a regiao, e logo trabalhos, etc... Futebol e um negocio ponto. Era um desporto quando o meu avo era miudo e via o caldas no anos 40s ou o belenenses nos 50s. Eu sou do SCP e honestamente, prefiro nao ganhar todos os anos o campeonato, mas ganhar o accesso a liga dos campeoes e encher os cofres do clube. Pagar dividas e gerar riqueza para a comunidade tambem. Portugal precisa de rever o campeonato o quanto antes. Ate a holanda com umnbom clube, tem os pequenos do sitio a fazer boas figuras... Ao contrario dos nossos. Enquanto adeptos quiserem ganhar sempre o campeonato a custonda liga nao passaremos de 3 bons clubes w um mediano.