A evolução de leões e dragões
É o sétimo confronto entre Rúben Amorim e Sérgio Conceição à frente de Sporting e FC Porto. Até aqui, o equilíbrio tem sido dominante. Mas as duas equipas mudaram muito nestes dois anos.
Sporting e FC Porto voltam a defrontar-se amanhã, em Lisboa, reeditando na primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal aquele que tem sido o mais intenso e equilibrado duelo do futebol português nos últimos dois anos. Desde a chegada de Rúben Amorim a Alvalade, faz no próximo sábado dois anos, leões e dragões enfrentaram-se seis vezes, com uma vitória do FC Porto – e foi logo no primeiro confronto – e uma do Sporting – de forma dramática, com virada no final. De resto, houve quatro empates, como que a provar que os dois rivais têm sido, dentro do campo, dignos um do outro. E no entanto as equipas mudaram muito, nestes dois anos. Mais no plano de jogo o FC Porto, mais nos homens o Sporting, que neste período se terá limitado a acertar comportamentos.
Dos onzes utilizados por Sérgio Conceição e Rúben Amorim nesse primeiro confronto em que os dois estavam já nos clubes que agora defendem – antes disso houvera mais dois desafios, ambos com vitória de Amorim, mas enquanto este ainda liderava o SC Braga – quase não resta ninguém. Do FC Porto, sobram no onze de gala deste ano Pepe, Mbemba e Otávio, os dois centrais e o médio que mais personifica a alma aguerrida da equipa portista nos dias de hoje – ainda que Fábio Vieira, que parece estar a ganhar peso nas escolhas agora, com a saída de Díaz, tenha sido também titular nessa noite. Do Sporting, já só lá estão Coates e Matheus Nunes, o capitão e o médio elástico que também é a imagem do futebol de Amorim. Dos 15 jogadores utilizados nesse dia por Amorim no Dragão, Matheus e Coates são mesmo os únicos que ainda estão no plantel, enquanto que Conceição promoveu mais continuidade no grupo, pois nesse dia ainda teve entre os titulares Marchesín e Manafá, ambos em perda agora, e fez saltar do banco Vitinha e João Mário, que atualmente já se transformaram em primeiras escolhas.
E, no entanto, quem mudou mais em termos de jogo foi o FC Porto, muito por força do ganho de peso no grupo de gente como Vitinha e Fábio Vieira e do desaparecimento dos avançados cujo maior mérito era mesmo a explosão, como Marega, a velocidade, como Corona, ou essas duas caraterísticas somadas à capacidade de desequilíbrio no plano individual, como Díaz. Se por um lado foi forçado a fazer a reconversão do futebol da sua equipa, devido às deserções promovidas pelo mercado, por outro Sérgio Conceição também terá visto que o caminho de crescimento que esta lhe escancarava passava por argumentos diferentes, como uma maior criatividade coletiva. Este é hoje um FC Porto muito mais arguto na exploração das ligações interiores, graças à inteligência de Taremi, à criatividade de Vitinha e Fábio Vieira e à capacidade pendular de Uribe. Otávio, esse, continua por lá, a fornecer garra, combatividade e capacidade de passe de rotura, para que a equipa não perca a possibilidade de atacar a profundidade que sempre foi a sua imagem de marca.
No lado do Sporting, mudou quase todo o plantel, que Amorim optou por construí-lo de raiz, muito de acordo com as suas ideias, mas o futebol continua a ser aquele que o treinador quis implementar desde o início. O mesmo sistema – o 3x5x2 da Madeira será sempre para casos muito especiais – com alas subidos, um dos centrais a construir por dentro com bola, aproveitando a largura dada pelo lateral, dois médios de grande amplitude espacial e os três avançados empenhados em contra-movimentos que os mandam, ora atacar a profundidade, ora procurar o espaço entre-linhas em desmarcações de apoio. O que o Sporting fez nestes dois anos de Amorim foi aperfeiçoar a forma que a equipa tem de desempenhar este guião, introduzindo-lhe ligeiras variantes que têm que ver, sobretudo, com as caraterísticas dos atores. Mais explosão com Matheus Nunes, onde havia mais gestão de ritmo com João Mário. Mais técnica e criatividade com Sarabia, mais profundidade e velocidade com Nuno Santos. Mais pressão alta e passe largo de variação de flanco com Palhinha, mais ligação interior com Ugarte.
Sporting e FC Porto são duas equipas altamente personalizadas, que toda a gente sabe ao que e como jogam. Ambas evoluíram no ataque posicional, deixando de parte aquela ideia que chegou a imperar de que eram sobretudo equipas de explosão e profundidade (o FC Porto) ou de construção curta e atração para posterior exploração do espaço nas costas (o Sporting). Hoje já são bem mais do que isso. No campeonato, os dragões estão seis pontos à frente. Na Europa, os leões foram capazes de atingir os oitavos-de-final da Champions. Na Taça, ainda está tudo em aberto.
Ontem, pode ter-lhe escapado
(Mas ainda pode ler, clicando na foto)
Neste tempo o Sporting evoluiu muito e se tornou um rival a altura!!
Se nos primeiros confrontos o F.C. Porto dominava e o Sporting respondia como podia, alicerçando-se sobretudo numa grande eficácia para equilibrar os resultados, nos embates mais recentes os de Alvalade já têm dividido mais o jogo, chegando a ser dominadores. Esta eliminatória também será importante para definir o que resta da época.