A comichão dos sete anos
Em sete anos, Marek Papszun levou o Rakow do terceiro escalão a um inédito título de campeão polaco. E saiu, de livre vontade, deixando o dono do clube a citar o filme de Billy Wilder com Marilyn.
“É ao fim de sete anos que a maior parte das relações se define verdadeiramente”, disse, com ar desconsolado, Michal Swierczewski, dono do Rakow Czestochowa, o clube da Silésia que em Maio cumpriu finalmente o desígnio de ser campeão polaco. A ocasião foi a conferência de imprensa de 19 de Abril, sete anos e um dia exatos passados sobre a data em que Marek Papszun, o rígido professor de história que Swierczewski contratara para levar a equipa a subir ao segundo escalão nacional, começara a trabalhar. Com o título de campeão da Ekstraklasa praticamente no bolso, depois de dois segundos lugares que serviram de aproximação à taluda, o jovem presidente que fez fortuna como criador de uma das maiores marcas de venda online da Polónia revelou que não convencera o treinador a renovar e a manter a parceria por mais uma temporada. “Tenho pena. Estou triste. Usei todos os argumentos possíveis, mas não foram suficientes”, explicou, não lhe restando mais então do que seguir em frente, mantendo presente no espírito a moral por trás do argumento de “The Seven Year Itch” [“A comichão dos sete anos”, em tradução literal, que nas salas de cinema portuguesas foi apresentado como “O Pecado Mora ao Lado”], o filme de Billy Wilder que celebrizou Marilyn Monroe. Papszun ainda completou a tarefa, que só foi campeão duas semanas depois, e mesmo nesse dia foi igual a si próprio na severidade. Quis o acaso que o Rakow tivesse ganho o campeonato no autocarro de volta a casa, depois de uma derrota em Kielce (1-0), porque o seu principal adversário na corrida, o Legia Varsóvia, também foi batido (2-1) em Szczecin. “Não me lembro de jogarmos tão mal como nesta primeira parte”, disse o técnico a cuja chegada os jogadores acharam que tinha pinta de chefe da máfia.