A caminhar com Messi
O milésimo jogo de Messi é uma ocasião a celebrar. Como ganharam, os argentinos fizeram-no, em comunhão com o público. Sem pressa, ou não fosse Leo o jogador que mais caminha e menos corre no Mundial.
Holanda e Argentina já estão nos quartos-de-final do Mundial e o destaque da imprensa de todo o Mundo, hoje, vai para o milésimo jogo de Lionel Messi, um desafio no qual acabou por ser decisivo, marcando o primeiro golo da vitória dos argentinos sobre a Austrália. Lorenzo Calonge, no El País espanhol, assinala que o 10 “superou Maradona em golos mundialistas”, uma vez que obteve o seu nono tento em fases finais, e são inúmeros os artigos a propósito do milésimo jogo do astro argentino – aqui ficam links para o assinado por José Barroso, no L’Équipe, ou para o de Jason Burt, no Sunday Telegraph, que destaca o facto de este ter sido o primeiro golo que ele marcou em fases a eliminar. Mas o que vale mesmo a pena ler, pela sua diferença, é o que escreve Laura Williamson no The Athletic. Sabia que ninguém caminha tanto como ele neste Mundial?
A vitória argentina teve a pontuá-la uma rara comunhão entre jogadores e adeptos, no final, que tanto uns como outros prolongaram por muito mais tempo do que o habitual. Foram “oito minutos de festejo” com os adeptos, como destacou o Clarín, que no entanto reconhece que o sucesso da equipa alviceleste não foi tão fácil como se esperava. “Às vezes, para ganhar, não é preciso jogar muito bem”, escreve Martín Voogd. “É preciso ter Messi, ser inteligentes e ter um pouco de sorte”, completa aquele analista. Não foi bem assim que o jogo foi visto no campo australiano, onde o erro de Mat Ryan, guarda-redes e capitão de equipa, no lance do segundo golo argentino, é mais enfatizado. E o tema do dia já é o futuro, como sempre que uma equipa é eliminada de um Mundial. O que vai passar-se com Graham Arnold, o tão contestado selecionador que levou os Socceroos a uma presença nos oitavos-de-final? Há respostas neste artigo do Daily Telegraph australiano.
Os argentinos vão agora encontrar os holandeses, que ontem venceram por 3-1 os Estados Unidos, num jogo em que os americanos até tiveram muito mais controlo do que se poderia esperar. Mas não foi preciso muito tempo de posse para que a equipa holandesa mostrasse que sabe melhor o que fazer com a bola. O primeiro golo holandês, marcado por Memphis Depay, a finalizar uma jogada em que os onze jogadores tocaram a bola, numa sucessão de 20 passes, foi destacado em gráfico pelo L’Équipe, a pontuar uma exibição laranja descrita como “metódica”. Toda a gente assinala a boa partida feita por Dumfries, autor de um golo e duas assistências. Pode ler aqui a crónica de Andy Hunter no The Observer. E aqui aquilo que escreveu David Álvarez no El País, a propósito da forma como a exibição do ala direito foi o que fez mais diferença na partida, apesar de Gregg Berhalter, selecionador norte-americano, ter jogado na Holanda e saber tudo sobre o futebol da laranja.
Hoje há mais dois jogos e ficaremos a conhecer mais duas equipas quarto-finalistas. A França de Mbappé defronta a Polónia de Lewandowski e o confronto é apresentado como um duelo entre os dois, mas dificilmente se ficará por aí. No El País, Diego Torres, regista como são tão diferentes os dois goleadores: “Lewandowski é um animal de área, que precisa de sentir os centrais; Mbappé é mais aventureiro e não tem prioridades tão claras”, explica. No L’Équipe, Baptiste Chaumier destaca ainda o papel de Szczesny, que “defendeu dois penaltis na fase de grupos” e abre o palco ao artigo de Nick Miller e Liam Tharme, no The Athletic, acerca de desempates por penaltis. Como se constrói um desempate perfeito? Como se prepara uma equipa para ele? Nesse aspeto, e curioso também ler o que escreve Damien Degorre na edição de hoje do L’Équipe. O diário desportivo foi saber junto de Guy Stéphan, o adjunto de Didier Deschamps como é feito o trabalho de preparação da equipa francesa nos dois dias anteriores a qualquer jogo do Mundial.
Mais à noite, será a vez de Inglaterra e Senegal disputarem mais uma vaga nos oito melhores do Mundial. Escreveu-se muita coisa boa na imprensa de língua inglesa sobre os senegaleses nos últimos dias. No The Athletic, Liam Tharme explica bem a importância da largura no jogo da equipa africana. Ontem, no Daily Telegraph, Jeremy Wilson e Luke Edwards recuaram até 2002, quando o naufrágio do Le Joola, um ferry que fazia a viagem de Ziguinchor para Dakar, custou a vida a 11 familiares de Aliou Cissé, então jogador do Birmingham City, tendo o atual selecionador senegalês continuado a treinar na equipa então dirigida por Steve Bruce. No The Guardian, a estrela escolhida por Will Unwin para colocar o foco nos senegaleses é Iliman Ndiaye, descoberto pelo Sheffield United em 2019 numa equipa de Sunday League, a Liga de amadores que está abaixo dos campeonatos profissionais na estrutura do futebol inglês. E no El Mundo, Francisco Cabezas centra a descoberta da equipa senegalesa em Mendy, o guarda-redes que revela em toda a sua dualidade: a estrela do Chelsea passou uma época parado, aos 23 anos, depois de ter sido dispensado pelo Cherburgo.
Conversas de Bancada
A Ler:
The inside story of how Belgium’s World Cup turned toxic, por vários autores, no The Athletic, é uma viagem às tensões, linguísticas e pessoais, bem como às opções de Roberto Martínez, que acabaram por arruinar o Mundial da Bélgica.
Bienvenue en ch’tite Pologne, por Jocelyn Lermusieaux, no L’Équipe, é uma reportagem na zona mineira de Lens, que conta com muitos habitantes de origem polaca, divididos em dia de França-Polónia.
Senegal’s beach boys missing big names but still riding a wave, por Ed Aarons, no The Observer, é uma avaliação à equipa do Senegal que hoje se baterá com a Inglaterra por uma vaga nos quartos-de-final.
Does having a foreign coach at the World Cup ever work?, por Nick Miller, no The Athletic, debruça-se sobre a questão dos selecionadores estrangeiros, com uma imensidão de dados que permite lançar a questão colocada no título.
The US World Cup team is notably diverse, but the pipeline needs help, por Kurt Streeter, avalia o crescimento da influência dos afro-americanos na seleção dos Estados Unidos, com o foco a mudar dos primeiros para o capitão atual, Adams.
Quand le Qatar desserre les vices, por Alban Traquet, no L’Équipe, revela as exceções a todas as proibições neste Mundial, desde a venda de álcool, que não circula só em zonas VIP, até à prostituição, que também não se esconde.
The beating heart of Doha: why the Metro is where the World Cup is really at, por Paul McInnes, parte em busca da mistura de adeptos das várias seleções no luxuoso metro de Doha.
Al-Khelaifi, el niño que jugaba al tenis con el emir, por Orfeo Suárez, no El Mundo, desenha o perfil do presidente do Paris Saint-Germain e do Qatar Sports Investment através das relações que foi estabelecendo com os poderosos.
El propósito de transcender, por Jorge Valdano, no El País, é a coluna do ex-jogador argentino. Esta semana fala-nos da igualização que o treino traz a um futebol onde “distinguir-se já é ganhar”. É de ontem, mas ainda vale a pena.
Hometown of Tyler Adams, US captain, still proud even with loss, por Grace Ashford, no The New York Times, é uma reportagem em Hudson Valley, a cidade onde nasceu e cresceu o capitão da seleção norte-americana.
Marruecos, futbolistas de calle, por Álvaro Sánchez e Juan Navarro, no El País, considera esta geração a melhor da história do futebol marroquino e deixa um aviso à Espanha, que enfrenta os magrebinos nos oitavos-de-final.
A Ouvir
Os Estados Unidos caíram do Mundial e, mais uma vez com recurso à equipa responsável pelo Football Americas, o ESPN FC fez um primeiro balanço da participação da equipa de Gregg Berhalter neste campeonato. Hercules Gomez e Kasey Keller debateram o presente e o futuro da equipa que vai organizar o próximo Mundial com o holandês Mario Melchiot, o escocês Stevie Nicol, o anglo-nigeriano Nedum Onuha e o francês Frank Leboeuf. Gomez não crê que Berhalter venha a estar à frente da equipa daqui a quatro anos, porque o vê tentado a pegar num clube, Nicol identifica o problema desta seleção no facto de não ter um bom número 9 e sobretudo de ter médios muito semelhantes, que não têm condições para pegar no jogo mas mesmo assim quiseram fazê-lo, deixando a Holanda mais confortável. Mas o soundbyte do dia veio de Keller. “A ideia de queremos que os Estados Unidos de repente sejam o Brasil é simplesmente ridícula”, comentou o antigo guarda-redes. A edição de ontem do programa conduzido por Dan Thomas na estação norte-americana segue com o rescaldo do Argentina-Austrália e inclui o habitual Extra-Time, com muita galhofa na resposta às perguntas que os espectadores deixaram via Twitter.
A ver ver
França-Polónia, 15h, Sport TV1
Inglaterra-Senegal, 19h, TVI e Sport TV1
AT muitas das hiperligacoes são conteúdo pago. Ou seja não dá para ver.
Agora é que o Cristiano se vai esmifrar para igualar e bater o recorde de Eusébio e Messi